Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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LEGI�O URBANA(Trechos da entrevista a A Tarde, Salvador
(BA) - 26/02/1988) (...) Planalto, t�dio, pobreza em volta e um p�r-do-sol
escarlate que abrasa a alma. Em suas grandes quadras, por volta do inicio desta
amorfa d�cada, tribos se reuniam para curtir as novidades que chegavam de
Londres. Formada em Bras�lia, em agosto de 1982, por Renato Russo e Marcelo
Bonf�, a Legi�o passou efetivamente a ser um grupo com a entrada de Dado
Villa-Lobos, em mar�o de 1983. Em 1986, a Legi�o lan�aria Dois, disco que
deveria ser um �lbum duplo, mas que a gravadora n�o topou, com receio da
receptividade. N�o apostou e marcou bobeira. Misturando influ�ncias p�s-punk
com melodias countryfolkpop, moldura para as letras geniais de Renato Russo, o
disco invadiu r�dios e cora��es falando " ...que a tempestade que chega
� da cor dos teus olhos castanhos... ", mas pegou a banda de surpresa pela
press�o do sucesso. O que realmente aconteceu est� pelas p�ginas de revistas
e jornais de todo o pa�s, em sinceros depoimentos da galera. Foi preciso parar
e repensar tudo, sen�o at� a amizade teria dan�ado. (...) Eis (...) ent�o um
pouco da persona Renato Russo e do real Renato Manfredini Jr, o maior letrista
brasileiro do momento. (Por Hagamenon Brito) Voc�s gravaram praticamente em duas semanas o novo
disco (Que Pa�s � Este 1978/1987). Como rolou essa volta ao passado, ao tempo
do Aborto El�trico? Foi legal esse registro? RR - Acho que ficou superlegal, tanto
que as pessoas t�m gostado. "Faroeste Caboclo" foi escolhida a melhor
m�sica de 1987, pela Bizz e "Que pa�s � Este" foi a eleita pelo p�blico
da revista, sem contar que fomos eleito a melhor banda pelo jornal do Brasil.
Foi um trabalho que deu certo. Rolou um papo de que a gravadora (EMI-Odeon) fez press�o
para que o disco sa�sse... RR - Nada disso. N�o houve press�es,
mesmo porque n�o adianta nada. Eles, inclusive, n�o queriam que a gente
gravasse o disco porque achavam que n�o iria dar tempo. Na verdade, est�vamos
gravando outro disco, que seria o terceiro, mas resolvemos parar porque,
intuitivamente, sentimos que aquele disco n�o era para o momento. Eu tamb�m n�o
estava muito a fim de escrever letras. Ent�o, como j� est�vamos no est�dio,
com tudo ligado e produtor em cima, pintou a id�ia de gravar as m�sicas
antigas, pegando mais duas novas composi��es para que o trabalho viesse at�
1987. Ficou legal. M�sicas de nove anos atr�s, apesar de prim�rias em
termos de constru��es, continuam atual�ssimas nas tem�ticas, por causa da
situa��o do pa�s. Isso te desencanta em termos de Brasil? RR - N�o, eu n�o me preocupo mais com
essas coisas. N�o fico pensando muito por esse lado: agora, que � realmente
uma coisa chata, isso �. (...) Se f�ssemos parar para pensar na situa��o
brasileira, sairiam can��es parecidas com "Conex�o Amaz�nica" e
"T�dio", por exemplo; � claro que de formas diferentes, j� que eu n�o
tenho mais 18 ou 19 anos. De repente voc�s pararam de fazer shows e televis�es
desde maio de 1987, comprometendo um pouco o pr�prio futuro da banda. Como foi
esse processo que quase levou ao fim da Legi�o e da amizade entre voc�s? RR - Isso foi uma coisa muito estranha,
mas paramos para refletir sobre o que cada um queria da banda e de n�s pr�prios,
como amigos. E cada um queria que a banda continuasse e que tudo desse certo.
Ent�o decidimos que levar�amos tudo da melhor maneira poss�vel. � s� voc�
parar e pensar com calma nas coisas que tudo se resolve. Sem fazer shows e televis�o, voc�s venderam bastante
(mais de 650 mil c�pias) e houve uma volta triunfante. Foi surpreendente para
voc�s esse carinho t�o imenso por parte do p�blico? RR - Ah, sim, claro. A gente tava
morrendo de medo, pois ach�vamos que a galera podia n�o estar mais muito
ligada na gente. Foi meio arriscado de nossa parte, mas isso s� fez com que a
nossa volta fosse algo legal. � supergratificante. Isso provou que n�o
precisamos ficar aparecendo o tempo todo pra que as pessoas fiquem ligadas na
gente. Agora estamos de volta, fazendo shows mais espa�ados, mas nada de
retiros t�o radicais. Li outro dia que voc� andava ouvindo muito Caetano
Veloso e Chico Buarque, pessoas que voc� considera grandes letristas. E voc�
tamb�m se considera um grande letrista? RR - Ah, falta muito para eu ser um
grande letrista. Tem algumas coisas que eu gosto muito, tipo 'Andr�a D�ria".
Agora eu n�o fico em casa sentado ouvindo Caetano e Chico o dia todo n�o. Eu
ou�o de vez em quando, porque o que eu escuto mesmo � rock. Eu apenas
acompanho o trabalho deles. Por exemplo, eu n�o comprei o novo disco do Chico,
mas o do Caetano sim. Pois bem, voc� � considerado o maior letrista da m�sica
brasileira atual. Como bate o ego? RR - Eu n�o sei. Renato Russo � um
personagem, n�? Ele que pense alguma coisa sobre o assunto... Estou brincando.
Minha vida continua normal e eu n�o me considero ainda um grande letrista.
Tenho muito que escrever ainda, mas eu gosto que as pessoas pensem assim. Agora,
no pr�ximo disco v�o pintar coisas bem simples, tipo... "baby, baby eu te
amo", e a� muita gente vai pensar que Renato Russo acabou e coisas afins.
Eu n�o me preocupo com essas coisas de ego, e sim em fazer com que a pessoas
entendam coisas que sejam reflexos do que eu e a banda pensamos e sentimos. At�
o LP Dois eu sentia o mundo muito confuso, por isso sa�am letras complexas.
Agora eu estou sentindo emo��es bem simples b�sicas, tipo "eu gosto de
voc� e pronto", sem nada de " ... linho nobre pura seda" ou de
"... rabisquei meu horizonte". Mas isso � o que estou pensando nesse
momento. Daqui a 15 minutos eu posso mudar de opini�o. A essa altura do campeonato voc� ainda acredita na
for�a da atitude rocker? RR - Eu acho que o rock ainda � um
grande meio de express�o. N�o existe nada maior do que ele. O que voc� vai
fazer? Escrever um livro? N�o existe muita sa�da e o rock acaba levando a
melhor. Eu pelo menos acho que as pessoas prestam mais aten��o no rock do que
em outras formas musicais. Mas isso s�o apenas coisas que eu falo simplesmente.
Eu n�o fico pensando muito sobre isso. Eu n�o tenho ponto de vista determinado
sobre toda as coisas, somente sobre algumas, e o rock n�o � uma delas. O rock
� algo que n�o tem forma fixa, � muito variado. Ent�o me diga algo sobre o qual voc� tenha um ponto
de vista definido. Literatura, por exemplo, o que voc� tem lido ultimamente? RR - Ando lendo coisas tipo n�o-fic��o,
por exemplo o "fatos que mudaram o mundo" e coisas assim.
Recentemente, eu consegui as obras completas do Allen Ginsberg. Sempre estou
lendo poesias, principalmente os poetas ingleses, que eu gosto mais do que os
norte-americanos. No momento, mesmo, eu n�o tenho lido bastante porque estou
fazendo umas letras e n�o quero me influenciar. (...)
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Skooter 1998 - 2008 |
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