Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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O DESCOBRIMENTO DE BONF�

Na primeira grande entrevista da sua vida, o introspectivo ex-baterista da Legi�o Urbana faz revela��es sobre carreira solo, inseguran�a, drogas e a conviv�ncia com Renato Russo
(ShowBizz - 05/1998)

(Por Robert Halfoun)

 

Otimista. N�o poderia existir palavra melhor para definir o momento que vive Marcelo Bonf�. Depois da morte de Renato Russo e do fim da Legi�o, ele foi � luta. Resolveu investir pesado na voca��o para compositor e agora est� prestes a sair definitivamente da sombra da Legi�o. "Sempre idealizei uns temas e percebia que tinha uns detalhes legais. Dado e Renato tamb�m gostavam e chegamos at� a usar alguma coisa na Legi�o. Numa noite, estudando umas sonoridades, senti que realmente tinha potencial. Ent�o, decidi mergulhar de cabe�a", conta Bonf�, sentado � mesa de caf� da cozinha da sua casa.

Constru�da num luxuos�ssimo condom�nio na Barra da Tijuca, no Rio, a casa do baterista � daquelas dignas de figurar em revistas de decora��o. Ampla, bonita, arejada, tem p� direito alt�ssimo, paredes brancas e poucos m�veis nos ambientes. No entanto, embora imponente, ela � clean e despojada como o seu dono.

Marcelo � introspectivo e passa a maior parte de seu tempo em casa, sempre descal�o e vestindo camiseta e bermuda jeans. "Sou caseiro, s� saio daqui para ir ver um show ou outro no Metropolitan (casa de shows tamb�m na Barra). P�, investi tr�s anos da minha vida nessa constru��o. Acompanhei tudo, coloquei tijolo sobre tijolo e fui criando o meio para me isolar no meu canto. Precisava de uma condi��o legal para trabalhar", conta. Marcelo se refere ao pequeno est�dio, que comporta sua bateria, um teclado, um computador e uma s�rie de equipamentos de alta tecnologia, como sequencers e samplers. Foi ali que, desligado do mundo, ele gravou a base das dez can��es que far�o parte de seu primeiro disco solo. "Ano passado foi 1997, n�? Pois �, j� estou convivendo com essas m�sicas h� um temp�o, mas, como sou meio inseguro, s� agora comecei a mostr�-las para alguns m�sicos e estou mais confiante", diz. O medo de Bonf� tem motivo. O processo que ele usou para criar a sua obra � bastante diferente do usado na Legi�o. "Naquela �poca, muitas m�sicas surgiram baseadas no ritmo. O Renato falava: 'Bonf�, toca a�...'. Ent�o, aleatoriamente, eu mandava uma batida e ele e o Dado iam colocando os elementos. 'Ser�' e 'Soldados' nasceram assim", revela. Agora, sozinho, o baterista vai juntando as id�ias e criando climas e texturas. "N�o sei tocar teclado nem viol�o. Ent�o vou montando esse quebra-cabe�a." O resultado � algo bem relax, com levadas que, sim, lembram Legi�o. "Esse � um lado que � dif�cil evitar. Mas n�o chamaria meu trabalho de rock'n'roll", avisa.

Com o instrumental pronto, a batalha de Marcelo agora � em rela��o �s letras. Ele diz que n�o � muito bom com palavras e que, compreensivelmente, est� mal acostumado com a poesia de Renato Russo. "N�o tenho capacidade de exteriorizar as coisas que eu sinto. Al�m do mais, Renato j� falou sobre tudo o que eu penso. Meu mundo gira em torno das m�sicas da Legi�o", confessa. Por isso, pensa em pedir para que amigos como Herbert Vianna, Alvin L. e Paulo Ricardo lhe escrevam letras numa linha mais rom�ntica. S� ainda n�o o fez por causa da tal inseguran�a. Sentimento que, segundo sua mulher, Simone, o faz ser centralizador. "Se ela falou, t� falado", brinca e emenda, mais s�rio. "�, realmente eu n�o consigo jogar nada na m�o das outras pessoas, cara. Sei l�, por medo de me surpreender com o resultado final, quero estar envolvido em tudo que est� ao meu redor. Desde os detalhes do meu disco at� o card�pio do jantar aqui de casa", confessa.

E, sabendo que Renato Russo tamb�m tinha uma personalidade fort�ssima, n�o � dif�cil imaginar que o relacionamento entre o poeta e o baterista n�o devia ser muito f�cil. "Adorava ver o Renato falar e gostaria de ter conversado muito mais com ele. Infelizmente n�o dava. O Renato era muito dif�cil, n�? S� n�o brig�vamos mais porque nos encontr�vamos pouco", revela. Na seq��ncia, lembra um dos casos. "Durante a grava��o de A Tempestade, existia uma id�ia de que dever�amos lan�ar um CD triplo. Eu achava que o �lbum tinha de ser duplo e fiz uma lista de m�sicas bem pr�xima do que � o disco hoje. A� liguei para o Renato. Cara, ele ficou duas horas me esculachando pelo telefone. Dizia que t�nhamos um compromisso com os nossos f�s. Depois, pensou melhor, e tamb�m chegou � conclus�o que tr�s CDs era demais", conta.

Al�m das diferen�as de personalidade, a droga foi outro fator que contribuiu muito para as guerras de nervos. Que Renato teve problemas s�rios com anfetaminas e �lcool, todo mundo sabe. Mas que Marcelo foi fundo demais no consumo de maconha e, segundo ele, se tomou dependente de THC (subst�ncia da Cannabis que age sobre os neur�nios), o baterista revela num momento de absoluta reflex�o. "Fumei maconha durante vinte anos e teve um momento que come�ou a me fazer muito mal. A� queria parar e n�o conseguia. Depois de tanto tempo fumando, entrei num est�gio que, mesmo que ficasse sem usar a droga durante dois ou tr�s dias, meu c�rebro continuava naquela vibra��o, entende?" E foi sua mulher que o ajudou a sair do v�cio. "Ela me deu muita for�a. Queria chegar ao n�vel emocional dela", conta. Hoje, obviamente, o careta Bonf� n�o quer saber de tapinhas. "Atualmente prefiro ar puro. E n�o aconselho ningu�m a fumar, n�o... Fui num show do Planet Hemp, achei o m�ximo, mas as pessoas precisam saber separar as coisas. Cada vez mais � cientificamente provado que maconha � perigoso, mas eu n�o entro nesse papo. Estou falando de experi�ncia pr�pria. Tive sorte, cara. Muita sorte..."

Marcelo Bonf� nasceu virado pra a lua. E ele mesmo concorda com essa teoria. " Sempre paro para pensar nisso. E agrade�o a Deus por um monte de coisas", fala. Entre elas, est�o com certeza estar casado h� quase dez anos com uma mulher bonita e compreensiva, ter o simp�tico filho Thiago, de 6 anos e, claro, ter ganho muito dinheiro com a Legi�o. "A gente sempre recebeu muito de disco, as nossas m�sicas tocam para caramba... Mas tamb�m n�o posso extrapolar. Eu tenho uma casa, um carro legal e uma situa��o confort�vel", admite.

Na verdade, Marcelo faz parte do 1% dos artistas do rock nacional que realmente ficaram ricos. C� pra n�s, nada mal para um garoto filho de fam�lia pobre, que h� 33 anos nasceu na cidade de ltapira, interior de S�o Paulo.

Filho de um soci�logo funcion�rio do Banco do Brasil, Bonf� foi parar em Bras�lia por acaso, numa das andan�as do pai. Fez o segundo grau num daqueles col�gios pejorativamente chamados de boate, fez um curso profissionalizante de Publicidade e nunca precisou trabalhar, a n�o ser como baterista do Legi�o Urbana. "Tive sorte de poder fazer as coisas que eu gosto. Nunca tive aula de bateria nem nada. O grande lance era colocar um fone de ouvido e ficar tirando as batidas de bandas como Buzzcocks, Ramones, Sex Pistols..."

Hoje, mais maduro, est� tendo aula de m�sica e de canto. Isso para soltar a voz no seu futuro disco. "Estou indo bem nas aulas. Tenho um bom timbre e j� consigo at� ouvir a minha voz gravada", diz, referindo-se a um dos maiores desafios para quem est� aprendendo a cantar.

Quando estiver no ponto, Marcelo pretende entrar em est�dio para que o rascunho que gravou em sua casa se transforme, enfim, em arte final. Se o �lbum j� tem data de lan�amento? "�s vezes consulto o I Ching para ver se encontro alguma resposta", brinca. "Acho que at� o fim do ano sai. Esse trabalho para mim � um desafio. Botei isso na minha cabe�a e vou conseguir", acredita. E conclui, chutando a inseguran�a para escanteio: "Quando voc� me ligou pedindo a entrevista, fiquei com medo de n�o ter nada para falar ou mostrar. Agora descobri o contr�rio. O Renato era um cara fabuloso, incompar�vel. Adorava v�-lo falar, aprendi muito com ele e sei que agora chegou a minha vez".

 

 

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