Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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O DESCOBRIMENTO DE BONF�Na primeira grande entrevista da
sua vida, o introspectivo ex-baterista da Legi�o Urbana faz revela��es sobre
carreira solo, inseguran�a, drogas e a conviv�ncia com Renato Russo (Por
Robert Halfoun) Otimista.
N�o poderia existir palavra melhor para definir o momento que vive Marcelo Bonf�.
Depois da morte de Renato Russo e do fim da Legi�o, ele foi � luta. Resolveu
investir pesado na voca��o para compositor e agora est� prestes a sair
definitivamente da sombra da Legi�o. "Sempre idealizei uns temas e
percebia que tinha uns detalhes legais. Dado e Renato tamb�m gostavam e
chegamos at� a usar alguma coisa na Legi�o. Numa noite, estudando umas
sonoridades, senti que realmente tinha potencial. Ent�o, decidi mergulhar de
cabe�a", conta Bonf�, sentado � mesa de caf� da cozinha da sua casa. Constru�da
num luxuos�ssimo condom�nio na Barra da Tijuca, no Rio, a casa do baterista �
daquelas dignas de figurar em revistas de decora��o. Ampla, bonita, arejada,
tem p� direito alt�ssimo, paredes brancas e poucos m�veis nos ambientes. No
entanto, embora imponente, ela � clean e despojada como o seu dono. Marcelo
� introspectivo e passa a maior parte de seu tempo em casa, sempre descal�o e
vestindo camiseta e bermuda jeans. "Sou caseiro, s� saio daqui para ir ver
um show ou outro no Metropolitan (casa de
shows tamb�m na Barra). P�, investi tr�s anos da minha vida nessa constru��o.
Acompanhei tudo, coloquei tijolo sobre tijolo e fui criando o meio para me
isolar no meu canto. Precisava de uma condi��o legal para trabalhar",
conta. Marcelo se refere ao pequeno est�dio, que comporta sua bateria, um
teclado, um computador e uma s�rie de equipamentos de alta tecnologia, como
sequencers e samplers. Foi ali que, desligado do mundo, ele gravou a base das
dez can��es que far�o parte de seu primeiro disco solo. "Ano passado foi
1997, n�? Pois �, j� estou convivendo com essas m�sicas h� um temp�o, mas,
como sou meio inseguro, s� agora comecei a mostr�-las para alguns m�sicos e
estou mais confiante", diz. O medo de Bonf� tem motivo. O processo que ele
usou para criar a sua obra � bastante diferente do usado na Legi�o.
"Naquela �poca, muitas m�sicas surgiram baseadas no ritmo. O Renato
falava: 'Bonf�, toca a�...'. Ent�o, aleatoriamente, eu mandava uma batida e
ele e o Dado iam colocando os elementos. 'Ser�' e 'Soldados' nasceram
assim", revela. Agora, sozinho, o baterista vai juntando as id�ias e
criando climas e texturas. "N�o sei tocar teclado nem viol�o. Ent�o vou
montando esse quebra-cabe�a." O resultado � algo bem relax, com levadas
que, sim, lembram Legi�o. "Esse � um lado que � dif�cil evitar. Mas n�o
chamaria meu trabalho de rock'n'roll", avisa. Com
o instrumental pronto, a batalha de Marcelo agora � em rela��o �s letras.
Ele diz que n�o � muito bom com palavras e que, compreensivelmente, est� mal
acostumado com a poesia de Renato Russo. "N�o tenho capacidade de
exteriorizar as coisas que eu sinto. Al�m do mais, Renato j� falou sobre tudo
o que eu penso. Meu mundo gira em torno das m�sicas da Legi�o", confessa.
Por isso, pensa em pedir para que amigos como Herbert Vianna, Alvin L. e Paulo
Ricardo lhe escrevam letras numa linha mais rom�ntica. S� ainda n�o o fez por
causa da tal inseguran�a. Sentimento que, segundo sua mulher, Simone, o faz ser
centralizador. "Se ela falou, t� falado", brinca e emenda, mais s�rio.
"�, realmente eu n�o consigo jogar nada na m�o das outras pessoas, cara.
Sei l�, por medo de me surpreender com o resultado final, quero estar envolvido
em tudo que est� ao meu redor. Desde os detalhes do meu disco at� o card�pio
do jantar aqui de casa", confessa. E,
sabendo que Renato Russo tamb�m tinha uma personalidade fort�ssima, n�o �
dif�cil imaginar que o relacionamento entre o poeta e o baterista n�o devia
ser muito f�cil. "Adorava ver o Renato falar e gostaria de ter conversado
muito mais com ele. Infelizmente n�o dava. O Renato era muito dif�cil, n�? S�
n�o brig�vamos mais porque nos encontr�vamos pouco", revela. Na seq��ncia,
lembra um dos casos. "Durante a grava��o de A Tempestade, existia uma id�ia de que dever�amos lan�ar um CD
triplo. Eu achava que o �lbum tinha de ser duplo e fiz uma lista de m�sicas
bem pr�xima do que � o disco hoje. A� liguei para o Renato. Cara, ele ficou
duas horas me esculachando pelo telefone. Dizia que t�nhamos um compromisso com
os nossos f�s. Depois, pensou melhor, e tamb�m chegou � conclus�o que tr�s
CDs era demais", conta. Al�m
das diferen�as de personalidade, a droga foi outro fator que contribuiu muito
para as guerras de nervos. Que Renato teve problemas s�rios com anfetaminas e
�lcool, todo mundo sabe. Mas que Marcelo foi fundo demais no consumo de maconha
e, segundo ele, se tomou dependente de THC (subst�ncia da Cannabis que age
sobre os neur�nios), o baterista revela num momento de absoluta reflex�o.
"Fumei maconha durante vinte anos e teve um momento que come�ou a me fazer
muito mal. A� queria parar e n�o conseguia. Depois de tanto tempo fumando,
entrei num est�gio que, mesmo que ficasse sem usar a droga durante dois ou tr�s
dias, meu c�rebro continuava naquela vibra��o, entende?" E foi sua
mulher que o ajudou a sair do v�cio. "Ela me deu muita for�a. Queria
chegar ao n�vel emocional dela", conta. Hoje, obviamente, o careta Bonf�
n�o quer saber de tapinhas. "Atualmente prefiro ar puro. E n�o aconselho
ningu�m a fumar, n�o... Fui num show do Planet Hemp, achei o m�ximo, mas as
pessoas precisam saber separar as coisas. Cada vez mais � cientificamente
provado que maconha � perigoso, mas eu n�o entro nesse papo. Estou falando de
experi�ncia pr�pria. Tive sorte, cara. Muita sorte..." Marcelo
Bonf� nasceu virado pra a lua. E ele mesmo concorda com essa teoria. "
Sempre paro para pensar nisso. E agrade�o a Deus por um monte de coisas",
fala. Entre elas, est�o com certeza estar casado h� quase dez anos com uma
mulher bonita e compreensiva, ter o simp�tico filho Thiago, de 6 anos e, claro,
ter ganho muito dinheiro com a Legi�o. "A gente sempre recebeu muito de
disco, as nossas m�sicas tocam para caramba... Mas tamb�m n�o posso
extrapolar. Eu tenho uma casa, um carro legal e uma situa��o confort�vel",
admite. Na
verdade, Marcelo faz parte do 1% dos artistas do rock nacional que realmente
ficaram ricos. C� pra n�s, nada mal para um garoto filho de fam�lia pobre,
que h� 33 anos nasceu na cidade de ltapira, interior de S�o Paulo. Filho
de um soci�logo funcion�rio do Banco do Brasil, Bonf� foi parar em Bras�lia
por acaso, numa das andan�as do pai. Fez o segundo grau num daqueles col�gios
pejorativamente chamados de boate, fez um curso profissionalizante de
Publicidade e nunca precisou trabalhar, a n�o ser como baterista do Legi�o
Urbana. "Tive sorte de poder fazer as coisas que eu gosto. Nunca tive aula
de bateria nem nada. O grande lance era colocar um fone de ouvido e ficar
tirando as batidas de bandas como Buzzcocks, Ramones, Sex Pistols..." Hoje,
mais maduro, est� tendo aula de m�sica e de canto. Isso para soltar a voz no
seu futuro disco. "Estou indo bem nas aulas. Tenho um bom timbre e j�
consigo at� ouvir a minha voz gravada", diz, referindo-se a um dos maiores
desafios para quem est� aprendendo a cantar. Quando
estiver no ponto, Marcelo pretende entrar em est�dio para que o rascunho que
gravou em sua casa se transforme, enfim, em arte final. Se o �lbum j� tem data
de lan�amento? "�s vezes consulto o I Ching para ver se encontro alguma
resposta", brinca. "Acho que at� o fim do ano sai. Esse trabalho para
mim � um desafio. Botei isso na minha cabe�a e vou conseguir", acredita.
E conclui, chutando a inseguran�a para escanteio: "Quando voc� me ligou
pedindo a entrevista, fiquei com medo de n�o ter nada para falar ou mostrar.
Agora descobri o contr�rio. O Renato era um cara fabuloso, incompar�vel.
Adorava v�-lo falar, aprendi muito com ele e sei que agora chegou a minha
vez". |
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Skooter 1998 - 2008 |
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