Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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CAPA: Renato Russo VIVE

(SHOWBIZZ - 10/1999 - Edi��o: 171)

EDITORIAL

Renato Russo na capa de SHOWBIZZ n�o chega a ser novidade. Apela��o? Pergunte a Dado Villa-Lobos (ou leia o que ele tem a dizer sobre isso nas p�ginas 23 e 24) e se prepare para sentir a impaci�ncia do doce legion�rio com esse tipo de acusa��o. Acontece que a maior estrela da nossa m�sica pop est� por a� mesmo, no vindouro Ac�stico MTV da Legi�o, nos novos discos de Tit�s, Bar�o Vermelho, Z�lia Duncan, Jerry Adriani, Ataque 77 (banda argentina) e em ocasi�es como o festival realizado em Belo Horizonte em setembro, quando Raimundos, Charlie Brown Jr., Lulu Santos, Pato Fu, Biqu�ni Cavad�o e Wilsom Sideral tocaram, cada um, pelo menos uma m�sica da Legi�o. Viu? E s� olhar pro lado e l� est� ele.(...)

Hist�ricas ironias

Enquanto Bras�lia prepara um memorial para Renato Russo, CD e v�deo Ac�stico da MTV da Legi�o Urbana mostram um �dolo debochado e temperamental sendo solenemente cultuado.

por Bernardo Araujo *
Ilustra��es: Angelo Abu

"Que nada gente, esse neg�cio de timidez � tudo ensaiado!" diz a certa altura do show. Em um pequeno palco, envolto por convidados e integrantes do f�-clube, a Legi�o Urbana gravava, no dia 28 de janeiro de 1992, o segundo Ac�stico da hist�ria da MTV brasileira e o primeiro de uma banda de pop rock - Jo�o Bosco havia sido o precursor. A grava��o aconteceu no extinto Hippodrommo, no bairro paulistano de Perdizes, casa famosa pelo estigma de "caveira de burro" - aquele lugar onde, nada d� certo, por mais que mude de nome, decora��o ou p�blico alvo. Desde ent�o seu endere�o j� abrigou, entre outras coisas, uma igreja evang�lica, e hoje �... bingo!

A legi�o estava lan�ando seu quinto disco, V, e Renato tinha esperan�as de n�o sair em turn�. "Voc� nunca sabia o que podia acontecer em um show da legi�o, Renato podia n�o aparecer, dar chilique, passar mal... O Dado dizia que eles viviam sob tortura", lembra Dinho Ouro Preto, cantor do Capital Inicial, conterr�neo e amigo dos legion�rios que compareceu ao Hippodrommo naquela t�rrida tarde de ver�o. A plat�ia inclu�a tamb�m o cantor ingl�s Seal, escalado para o Hollywood Rock daquele m�s - ele estava estourando com "Crazy" -, e o ent�o VJ Luiz Thunderbird, que, reza a lenda, chorou de emo��o. "� verdade que eu me emocionei, mas n�o me lembro desse detalhe. Eu e o Rog�rio fomos os �nicos a ver a passagem de som,.. que durou umas quatro horas! Pedi para tocarem "Pais E Filhos", uma das minhas musicas favoritas, e, no show, Renato a dedicou a mim, dizendo: "Esta vai para Thunderbird, o VJ sem pai nem m�e. "Foi lindo", atesta o cantor da banda Devotos De Nossa Senhora Aparecida. 

� p�blico e not�rio que Renato n�o gostava de cantar ao vivo - depois de certo ponto na carreira, s� fazia isso em �ltimo caso. Na apresenta��o para a televis�o, ele dava pistas: "Gente, comprem o disco! Ajudem! A gente s� vai sair em turn� depois de vender uns 250 ou 300 mil, sen�o fica aquele pessoal l� na frente (voz fina e enjoada): toca 'Ainda � Cedo'!".

MENUDO, MITCHELL E YOUNG 

Por outro lado, � bem verdade que ele parecia � vontade no pequeno palco. "Me lembrou os tempos do Renato Trovador Solit�rio entre o final do Aborto e o come�o da Legi�o, quando ele se apresentava sozinho cantando m�sicas que contavam hist�rias, tipo 'Faroeste Caboclo' e 'Dado Viciado', lembra Dinho. 

No disco, o tal trovador fala pelos cotovelos, como sempre - ele chega a tangenciar o assunto da Aids, dizendo: "Tanta coisa acontecendo... olha gente, isso � s�rio, safe sex or no sex (sexo seguro ou sexo nenhum)" - brincando e tocando at� m�sica do Menudo. Menudo? Pois �. Naquela �poca em que os porto-riquenhos j� n�o estavam no auge e Ricky Martin engatinhava em carreira solo, ele desencavou "Hoje A Noite N�o Tem Luar" (no original, "Hoy Me Voy Para M�xico") e a cantou, sozinho ao viol�o. "n�o foi brincadeira, tipo tocar jingle de sucrilhos, n�o. Ele gostava mesmo da m�sica, que ali�s nem fez muito sucesso" , lembra Dado. Ao final, Renato pergunta: "N�o � bonitinha?" e confessa: "Me emocionei". 

A inesperada vers�o n�o foi ao ar com o especial da MTV e nem deveria ter entrado no CD. Antes de cantar, Renato pergunta aos t�cnicos: "n�o est� gravando n�o, n�?", e recebe uma resposta afirmativa. "Resolvi gravar tudo para poder fazer alguma coisa mais tarde. Se eu n�o tivesse feito, provavelmente n�o haveria disco" , gaba-se o engenheiro de som Eg�dio Conde. Dado Villa-Lobos, por�m, desmente sua vers�o (veja boxe).

PIADAS E CHILIQUES

Al�m de Ricky, Ray, Roy, Robbie e Charlie, foram lembrados outros favoritos de Renato : o Buffalo Springfield (banda que contou com Neil Young antes de sua carreira solo), com "On The Way Home", que se funde a "Rise", do p�s punk Public. Image Limited; a cantora canadense Joni Mitchell, em "Pretty Lies", e a distor��o pop do Jesus & The Mary Chain do com "Head On" (gravada tamb�m pelos Pixies). O repert�rio da legi�o aparece numa sele��o bastante criteriosa. As quatro primeiras m�sicas s�o dos quatro primeiros discos, e em ordem: "Baader-Meinhof Blues", "�ndios", "Mais Do Mesmo" e "Pais E Filhos"- Nada de "Ser�" (Renato, em certo momento, debocha do sotaque baiano de Simone - que registrou a can��o, cantando "nos p�rd�r�mos entre m�nstros..." e depois confessa: "Prefiro a vers�o da C�ssia Eller"), Gera��o Coca-Cola ou outros hits �bvios. Entram mais algumas m�sicas de V, como "Seren�ssima", "Metal Contra As Nuvens" e "O Teatro Dos Vampiros", al�m de outras faixas conhecidas dos discos anteriores. 

"No final da grava��o ele estava feliz da vida, todos comemoraram muito", lembra Rog�rio Gallo, que dirigiu o programa ao lado de Marcelo Machado, "A banda estava no auge, havia muitos assessores cuidando de tudo", recorda o diretor musical do evento, Pena Schmidt. Mas nem todo mundo concorda com o tal clima de total paz e tranq�ilidade. "O Renato ficava nervoso, brigava, criou um clima tenso em v�rios momentos dos ensaios e da grava��o", lembra Marcelo. O ex-t�cnico de som da MTV Daniel Billio recorda um pequeno piti do cantor, Ao repetir uma m�sica, um operador de som, atr�s do palco e bem distante da banda, comentou: "P�, na grava��o do Jo�o Bosco foi tranq�ilo, tudo de primeira". Para a surpresa de todos, Renato ouviu e mandou, na lata: "�, mas eu t� errando aqui e vou repetir quantas vezes for necess�rio at� acertar".

"SIL�NCIO RESPEITOSO"

No final de outubro, o p�blico poder� levar para casa este Ac�stico em CD e v�deo - oito anos depois da grava��o e a veicula��o na MTV "Nunca tivemos pressa para lan�ar isso, j� t�nhamos um disco ao vivo, o M�sica para Acampamentos", lembra Dado, que foi a Los Angeles com o companheiro Marcelo Bonf� para a mixagem. "Foi simples, porque afinal eram s� dois viol�es, uma voz e uma percuss�o eventual", lembra o baterista. "� verdade que o som da voz vazava no microfone do viol�o e vice-versa, mas deu para acertar tudo". O processo de masteriza��o se deu no est�dio de Bernie Grundman, um dos mais badalados profissionais dos Estados Unidos (com discos de Michael Jackson no curr�culo). 

Antes da grava��o, a banda ensaiou por seis horas seguidas, e o resultado � emocionante e tecnicamente bem satisfat�rio. Claro, h� alguns errinhos, como na imensa letra de "Faroeste Caboclo" (Renato gagueja ao falar "nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpi�o"), que fecha o CD, Bem que Renato avisa antes, escolhendo bem o verbo: "Vamos tentar Faroeste". De resto, s�o aqueles erros que s� os m�sicos percebem, o p�blico continua boquiaberto. "Voc�s s�o muito gentis, eu errei pra caramba", diz ele, que nada tinha de auto-indulgente, ao agradecer os aplausos a bel�ssima vers�o ac�stica de "�ndios". 

O �lbum tem uma particularidade em rela��o a discos ao vivo em geral e especialmente em rela��o a discos ao Vivo em geral e especialmente da legi�o: afora os e algumas participa��es (t�midas) nas conversas de Renato o p�blico permanece silencioso, num respeito quase religioso. "Os Shows el�tricos, grandes, da Legi�o eram como a beatlemania ou um culto evang�lico, o p�blico berrava de uma maneira t�o hist�rica que �s vezes abafava o som da banda. Nessa apresenta��o ac�stica aconteceu o contr�rio, uma missa medieval, com todo mundo querendo ouvir tudo e n�o soltando um pio", define Dinho.

UM MEMORIAL PARA RENATO

"Todo mundo adorava a Legi�o Urbana, tanto o p�blico quanto a equipe t�cnica. O sil�ncio partiu mesmo desta adora��o, n�o houve nenhum pedido da MTV para que as pessoas ficassem quietas", diz o diretor Marcelo Machado. Dado Villa Lobos, mais uma vez, tem outra vers�o (veja boxe)

Controv�rsias, grandes ou pequenas sempre acompanharam a Legi�o e suas v�rias forma��es (al�m de Renato, Dado e Bonf�, a banda foi acompanhada, ao vivo, por diversos tecladistas, baixistas e guitarristas), O incidente mais lament�vel foi o da apresenta��o no Est�dio Man� Garrincha, em Bras�lia, em 1988, quando uma apresenta��o interrompida foi seguida por tumulto. "Foi lament�vel, aquilo fez o Renato odiar ainda mais os palcos", lembra Fernando Artigas, produtor do espet�culo e amigo pessoal do cantor. Ao lado dos pais de Renato, Renato e Carminha Manfredini, e da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Fernando � um dos articuladores do Memorial Renato Russo, inicialmente programado para ser inaugurado em abril do ano que vem.

J� existe, claro, um Espa�o Cultural Renato Russo, onde acontecem shows e oficinas, na quadra 508 Sul da capital. "Agora o projeto foi encampado pela Secretaria de Cultura e vamos usar uma das salas para o memorial, que ter� os �culos, roupas e alguns objetos do J�nior", conta dona Carminha. Ela lamenta que o filho vivia cercado de "falsos amigos", que roubavam seus pertences, "Ele ganhou muitos pr�mios, inclusive da BIZZ, mas acabou sumindo tudo". A gravadora EMI-Oden e amigos do cantor em Bras�lia e no Rio ser�o entrevistados pela curadora Sonia Paiva, "Depois vamos contratar um muse�logo, que organizar� a exposi��o", adianta a secret�ria de Cultura do Distrito Federal,Luiza Dorna. A id�ia � inaugurar o memorial como parte das comemora��es dos 40 anos de Bras�lia.

* Colaborou Andrea Estevam

"Morte aos necr�filos"

Dado Villa-Lobos era um calouro na arte de tocar viol�o em 1992. "Nunca fiquei t�o nervoso na minha vida", confessa

Como foram os preparativos para o Ac�stico?
Tomamos a decis�o de faz�-lo ap�s um tempo de conversas com a MTV. Era uma boa maneira de promover o disco V, que estava sendo lan�ado na �poca, e a gente nunca sabia se o Renato ia topar sair em turn�. Selecionamos o repert�rio e ensaiamos um pouco, acho que uma semana. Preparamos arranjos diferentes para algumas m�sicas, como "�ndios" e "Teatro dos Vampiros". Foi uma coisa simpl�ssima, com dois viol�es e alguma percuss�o, um pandeiro eventual.

Por que n�o houve nenhuma participa��o especial?
Primeiro porque ainda n�o havia esse formato de hoje, onde os convidados s�o quase obrigat�rios. Depois porque a gente meio que se isolava no Rio, como t�nhamos vindo de Bras�lia, n�o t�nhamos muitas intera��o com outras bandas. As can��es de terceiros no repert�rio s�o as participa��es.

Como pintou a m�sica do Menudo?
Claro que ela n�o estava no programa. Acho que quebrou uma corda do meu viol�o, o Renato foi enrolar e tirou mais essa da manga. A vers�o ficou bacana.

Foi dif�cil encarar um viol�o?
Muito. Aquele arranjo de "�ndios" era complicado, tem um teminha gravado por teclados que transpusemos para o viol�o, parecia um fado grego, mas ficou interessante e acabamos nos empolgando. Nenhum de n�s tinha a no��o nem a dimens�o do que poderia vir a ser um ac�stico. Demos o cora��o, como sempre.

Mas o projeto do disco j� existia?
J�, tanto que o show foi registrado em uma mesa multitrack. Duas can��es "�ndios" e "Teatro dos Vampiros", foram parar no nosso disco ao vivo, M�sica Para Acampamentos. A id�ia daquele disco era mostrar toda e qualquer forma��o ao vivo que a Legi�o j� teve.

Como estava o p�blico?
Tinha muita gente do f�-clube, que em geral � barulhenta, mas eles n�o podiam se manifestar, aplaudir muito, cantar junto, o Rog�rio Gallo proibiu. Me lembro bem disso. Eles ficavam calados, coitados. Ficou um clima meio tenso, tudo muito comportado, aqueles aplausos frios. No in�cio era gentileza pra todo lado, eles diziam: "Voc�s podem repetir essa m�sica, por favor?". E n�s: claro, pois n�o. No final o Renato j� estava p***: "N�o, n�o vou repetir essa p***, n�o sou profissional, eu trabalho com emo��o! (risos).

Com isso se esvazia o ba� da Legi�o?
O ciclo produtivo j� estava encerrado desde que lan�amos Uma Outra Esta��o, em 1997. O que existe agora s�o trechos de shows gravados, como esses da MTV. Depois da turn� de As Quatro Esta��es a gente gravou muita coisa. E como cada show da Legi�o era uma aventura diferente, pode ser interessante lan�ar alguma coisa.

Como � lembrar daquele show quando voc� se apresenta hoje em dia no ac�stico dos Paralamas?
N�o tem nada a ver, � uma coincid�ncia pura e simples. Tocar com eles � muito bacana, � uma escola pra mim. E, engra�ado, � o oposto do que fizemos. Eles preparam tudo com muita anteced�ncia, t�m um repert�rio muito bem pensado, arranjos elaborad�ssimos de sopros, percuss�o. Uma sofistica��o. O nosso � uma coisa tosca, o que vale � o cora��o, mostrar como a banda era de fato, um grande cantor interpretando aquelas m�sicas.

Voc� tem medo de ser acusado de estar lan�ando um disco s� pelo dinheiro?
N�o, pelo seguinte: voc� vai fazer o que com esse material? Vai deixar apodrecer? Queimar? Ele existe, est� ali em um arquivo, tem um oceano de pessoas interessadas, que contam com aquilo, sabem que vai fazer parte da vida pessoal de cada uma delas. Vai fazer o qu�, pegar e incinerar? O Uma Outra Esta��o saiu t�o logo depois da Tempestade, assim que o Renato morreu, exatamente para acelerar esse processo. Tem uns idiotas a� que chegaram a falar em necrofilia. Esses caras se eu pudesse eu matava, para que, a� sim, um necr�filo fosse comer o rabo deles, que � do que devem estar precisando. Estamos falando de m�sica, cultura, tudo o que envolve a vida dessas pessoas. Isso n�o pode ser tratado nesses termos.

A heran�a do cerrado

� s� ligar o r�dio em qualquer emissora FM que se ouve a interpreta��o de Herbert Vianna e os Paralamas, em seu disco Ac�stico, cantando "Que Pa�s � Este", que ali�s est� no repert�rio ao vivo do Capital Inicial. No VMB, em agosto, Raimundos e Charlie Brown Jr se uniram para tocar "Gera��o Coca-Cola". E as homenagens � Legi�o n�o param por a�. Al�m de covers nos pr�ximos discos do Bar�o Vermelho ("Quando O Sol Bater Na Janela Do Seu Quarto") e Tit�s ("Sete Cidades"), o viol�o esperto - em uma levada meio country - e o belo timbre de Z�lia Duncan abrilhantam "Quase Sem Querer", gravada no mais recente disco da mo�a, Acesso. "Eu vi um show do Aborto El�trico em meu col�gio, o Marista, em Bras�lia, quando eu tinha uns 15 anos", lembra ela, "e o p�blico parecia estar um metro acima do ch�o ouvindo o Renato". H� tempos Z�lia toca a m�sica ao vivo, mas achou melhor esperar para grav�-la para evitar aporrinha��es, j� que a morte de Renato ainda era recente. O maior tributo, no entanto, vem de Jerry Adriani. O veterano cantor da Jovem Guarda (que h� anos tem a voz comparada � de Renato Russo) gravou Forza Sempre, um CD inteiro. "Desde que participei de um tributo ao Renato sou apaixonado pelas composi��es dele", diz Jerry. O disco (veja resenha) tem vers�es para can��es como "Andrea Doria", "Giz", "Por Enquanto" e "Monte Castelo".

 

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