Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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DEPOIS DA TEMPESTADE

(Exatamente um m�s ap�s a morte de Renato Russo, Dado Villa-Lobos se abre, fala de dor, da Legi�o e faz planos para o futuro)

(SHOWBIZZ – Edi��o: 137- Dezembro/1996)

(Por ROBERT HALFOUN)

11 de novembro de 1996. H� apenas 31 dias, Dado Villa-Lobos perdia o amigo e parceiro Renato Russo e vivia um dos piores momentos da sua vida. Agora, o guitarrista da Legi�o Urbana est� tranq�ilo, sentado no apartamento-sede do selo Rock It!, localizado no arborizado bairro da G�vea, no Rio.

N�o, ele n�o est� triste. Tamb�m n�o tem olheiras e nem chora ao falar de Renato. "O que passou, passou", diz.

Na entrevista concedida poucas horas depois de ter jogado uma partida de futebol, Dado mostra uma for�a incr�vel e conta que est� cheio de planos. O neg�cio agora � bola pra frente.

Pergunta b�sica: planos para o futuro?

Muitos. Aqui na Rock It!, estamos negociando um novo contrato de distribui��o dos nossos discos. Pela Virgin lan�amos o Sex BeatlesII, o Dinho, o Brasil Compacto (uma colet�nea de bandas de rock brasileiro), o Peter Perfeito e o Edgar Scandurra. Mas esses discos praticamente n�o chegaram �s lojas. Eu gostaria de n�o lan�ar mais nenhum artista sem ter certeza de que ele vai ser recebido e encontrado pelo p�blico.

Ser o Dado, da Legi�o, facilita na hora de negociar?

Humm... Talvez at� conte um pouco, mas � neg�cio. O que vale mesmo � o que a gente tem para apresentar e o que estamos fazendo desde 1992. A gente tem 15 discos em cat�logo e outros por vir. A id�ia � ser um selo com cara pr�pria, uma marca que represente alguma coisa. Ah, eu queria mandar um recado: n�o � porque a gravadora se chama Rock It!, que s� gravamos rock. Galera de outros estilos, mandem suas demos para c�!!! Endere�o: Caixa Postal 38011. CEP 22451-970. Rio de Janeiro, RJ.

� dif�cil lutar por bandas mais novas, alternativas?

P�, � a maior batalha, mas � muito importante para o mercado. S�o poucas as pessoas que d�o for�a pra gente nova... � quase guerrilha, mas nossa vontade � maior do que qualquer perrengue.

Voc� destaca algum artista novo?

Fizemos um disco inteiro do Maria Bacana, mas acho que o trabalho do Brasil Compacto retrata a boa nova safra de bandas brasileiras. Fomos buscar o que est� realmente acontecendo no Brasil, de Norte a Sul. � claro que ficou muita coisa de fora, � imposs�vel colocar tudo num disco s�.

E voc�? N�o pensa em sair em carreira solo?

Imposs�vel. Eu n�o sei trabalhar sozinho. N�o sei mesmo. Sozinho, sozinho, nem pensar...

Voc� canta?

Ah, a gente sempre canta nas rodas de viol�o... Mas nunca pensei em entrar no est�dio e gravar alguma coisa. Mesmo porque o Renato tinha uma voz incr�vel e ele cantava aquelas letras que s� ele poderia dizer. Ao mesmo tempo que tinha a ver com o universo da Legi�o Urbana, eram coisas superpessoais. Ele criava as fronteiras dele.

O que voc� pretende fazer, afinal?

O que mais me impulsiona � a experimenta��o musical. Tocar com os amigos, criar com eles e ter de volta aquela sensa��o. Vou reativar o Dado E O Mundo Animal, que era uma banda experimental de Bras�lia. Rapaz, a gente era meio cult... �ramos a �nica banda que usava teclado. T�nhamos quatro, cinco m�sicas instrumentais, e era t�o maluco, que a banda acabou. Quem deu o nome, ali�s, foi o Herbert Vianna. Em 1981, eu comprei uma guitarra, a Dadocaster, que era quase um instrumento de brinquedo. Eu n�o tinha correia e o Herbert me deu uma com a condi��o de que eu colocasse o nome da banda de Dado E O Reino Animal. Achei �timo e, quando formamos a banda, tive de cumprir.

Mas isso � concreto? Quer dizer que voc� volta ao circuito...

Eu penso nisso todos os dias, mas, �s vezes, fico com uma puta pregui�a de fazer qualquer coisa... Fico meio desanimado de ter de ir no programa de n�o sei quem... Ah, n�o! Isto n�o d�. A Legi�o nunca gostou de fazer isso... Sei que � importante, mas esse lado sempre me atrapalhou muito. Tamb�m h� esse neg�cio: banda sempre tem um cara que fala por todo mundo... Sei que se fizesse alguma coisa, essa tarefa ia sobrar para mim. Eu queria acabar com isso. Ali�s, a id�ia da Legi�o era essa. O Bonf�, na bateria e o Renato, no baixo, que chamavam pessoas para ensaiar. Um dia um tocava guitarra, no outro vinha um cara diferente... Era para ser uma corrente cont�nua se transformando o tempo todo. E ningu�m seria o porta-voz de nada. A m�sica falaria por ela mesma.

O fato de o Renato ter virado o porta-voz incomodava?

N�o... Isso era inevit�vel. Nunca foi um problema, ou uma picuinha do tipo ‘ele fala muito, ele � o l�der...’ As coisas s�o assim. Sempre h� um l�der, mas no est�dio o trabalho funcionava de outra maneira.

Considerando que voc� � um m�sico profissional...

Ops... Eu sou um m�sico profissional que est� com a carteira de estagi�rio da OMB (Ordem dos M�sicos do Brasil) vencida... (risos)

Ok, mas voc� n�o pensa em fazer algum trabalho visando retorno financeiro?

Olha, j� ganhamos muito dinheiro e acho que vamos continuar ganhando. Essa quest�o n�o me preocupa em momento algum. O que me interessa � ter experi�ncias musicais com outras pessoas. Mas n�o fechei ainda que conceito � esse. Acredito no poder da m�sica em moldar o car�ter das pessoas.

A Legi�o era exatamente isso...

�, tocar as pessoas era o que a gente mais prezava no trabalho da banda. E ganhar dinheiro tamb�m, n�? (risos) S�rio: recebo milh�es de cartas de pessoas falando de como n�s mudamos a vida delas. Isto tamb�m aconteceu com a gente, tanto com artistas de fora. Lembro que eu ouvia os discos do Chico e do Caetano e aquelas mensagens entravam em voc� de maneira impressionante. Agora descobri o Clube da Esquina, que tamb�m � um disco incr�vel...

Voc� j� fez alguma an�lise da trajet�ria da Legi�o?

Me orgulho da credibilidade que conseguimos diante do nosso p�blico. Isso dinheiro algum pode comprar... N�o foi � toa que desisti de ir pra Fran�a estudar Sociologia para ficar aqui com aqueles caras fazendo m�sica. Cumprimos o nosso objetivo e de certa forma entramos para a hist�ria deste pa�s. Agora, � um livro que se fechou. O �ltimo cap�tulo come�ou em janeiro, quando entramos no est�dio para gravar A Tempestade e a �ltima frase foi escrita dia 11 de outubro de 1996.

Voc� se sente um �dolo?

N�o, de maneira alguma. Nunca!!! �dolo, eu? O Renato era um grande �dolo. Sei que ele tamb�m n�o queria ser esse mito em que se transformou. Mas as coisas tomam propor��es enormes. Vivemos uma biografia que j� tinha sido escrita. Sexo, drogas, brigas no est�dio, pau com os caras da gravadora...

Voc� falou em �ltimo cap�tulo... E os discos da Legi�o que ainda v�o ser lan�ados?

� o esp�lio da Legi�o... (ir�nico) Para A Tempestade gravamos 28 m�sicas e s� entraram 15. A id�ia inicial era que em 1997 ir�amos retomar o trabalho que hav�amos come�ado. A gente sempre fazia mais ou menos assim. Agora, vou ter de dar um acabamento para essas m�sicas. Inclusive porque a gravadora j� pagou por esse disco.

A Tempestade � um disco melanc�lico, consequentemente esse pr�ximo �lbum deve ter esse clima tamb�m...

Provavelmente. Com certeza as m�sicas t�m uma carga emocional muito forte. O Renato se foi... Vai ser terr�vel continuar esse disco. Mas h� temas mais leves e o repert�rio � bem variado. Ficaram coisas ac�sticas como "Dado Viciado" e "Mariane", que s�o bem Legi�o e bem pra cima.

Foi muito dif�cil gravar A Tempestade?

Foi complicado principalmente pelas oscila��es do Renato. Tinha horas em que ele estava bem, outras n�o.

Neste per�odo o Renato j� estava fisicamente mal?

N�o. Era psicol�gico mesmo. O Renato come�ou a ficar fisicamente debilitado em julho, na fase final do disco.

Houve algum momento em que a barra pesou mais durante a grava��o do disco?

Todos eles. Pra voc� ter uma id�ia, as vozes foram gravadas no primeiro take. Normalmente trabalh�vamos as m�sicas exaustivamente. Dessa vez n�o foi poss�vel. Mesmo assim temos momentos incr�veis. "Clarisse", que vai entrar no pr�ximo �lbum, � um deles. Ela � um m�sica de 10 minutos, que n�o tem o formato pop, n�o tem refr�ozinho... Ela tem rimas complicadas e o Renato gravou de uma vez s�. Foi inacredit�vel! Ele n�o parou em nenhum momento e n�o h� uma v�rgula sequer em que se mexer. S�o dois viol�es e uma letra muito forte. � a hist�ria tr�gica de uma menina, misturando ali uma autobiografia.

Apesar de as grava��es de A Tempestade terem sido turbulentas, voc� gosta do resultado final do disco?

Hoje sim. Antes era mais dif�cil... � duro voc� perceber que est� chegando ao fim. Voc� pressente isso e fica acuado no est�dio vendo aquilo tudo. E eu tinha que controlar a situa��es.

Ainda � dif�cil falar do Renato?

N�o. De maneira nenhuma... Passou. Curioso � que os grandes nomes da arte sempre tiveram um final meio tr�gico. N�o sei por qu�. Rimbaud morreu com gangrena na perna, depois de ser comerciante na �frica; John Lennon foi assassinado... A gente tem que aceitar a realidade, embora saber que o Renato est� morto tenha sido muito dif�cil.

Em que momento voc� soube que o Renato era soropositivo?

No dia em que saiu o exame, h� seis anos. Acho que eu soube at� mesmo antes dele...

Manter-se em sil�ncio foi um belo exemplo de fidelidade a um amigo...

�. (seco) Eu tenho a minha vida, a minha fam�lia, a Rock It!, mas o que me levou a isso tudo foi a minha amizade com esses caras que formam a Legi�o Urbana, na qual o Renato era o centralizador. Viv�amos muito unidos, mantendo as conversas em dia e sendo amigos acima de tudo. Ele pediu preserva��o e isso tinha de ser respeitado at� o �ltimo momento.

Voc�s conviviam nos �ltimos meses?

Nos fal�vamos mais por telefone. O Renato era um cara dif�cil de se aproximar. N�o tinha aquele neg�cio de ir ao cinema, tomar um lanche... Eu tamb�m estava superocupado... Mas fui v�-lo numa ter�a e ele morreu na sexta. Fiquei chocado. Foi quando vi que tinha acabado mesmo. Mas esse tipo de imagem eu n�o quero guardar... As vezes tenho uns relances, mas a lembran�a que fica � da pessoa din�mica, divertida e extremamente sagaz. Ele era assim.

Existem mesmo planos de lan�ar um disco ao vivo e outro de out-takes?

�, a gente ainda vai ver com a gravadora qual o formato ideal para lan�ar o material ao vivo e uns barulhos de est�dio...

Voc� buscou algum tipo de ajuda quando Renato morreu?

Eu fui para um lugar que n�o tinha nem telefone. Meus amigos foram sensacionais, estavam todos l� em casa. Precis�vamos dividir a dor uns com os outros. At� o fato de n�o ter enterro foi foda. O enterro tem uma fun��o social. Voc� p�e todo mundo no mesmo lugar, descarregando tudo ali naquela cerim�nia e quando ela acaba voc�, sai mais aliviado.

O que achou da rea��o dos f�s?

Eles sempre foram maravilhosos, n�? At� hoje, continuo recebendo cartas, telegramas supercarinhosos... Afinal, perdemos um amigo em comum.

Que tipo de m�sica tem feito sua cabe�a?

Acho que o punk do final do mil�nio s�o esses caras que fazem experimenta��es eletr�nicas. Gosto tamb�m das colet�neas em prol de alguma coisa, em que voc� ouve artistas maravilhosos ajudando o mundo a ficar melhor. Adoro isso. N�o gosto de discos que n�o dizem nada, n�o t�m prop�sito de p�rra nenhuma. �s vezes pego um �lbum e pergunto: "Isto serve pra qu�?"

Mas, m�sica, antes de tudo, � entretenimento...

� mesmo. O novo disco do Beck � incr�vel, sou f� e n�o questiono nada. O R.E.M novo tamb�m � legal. O Planet Hemp � a �nica banda politizada deste pa�s. O D2 � um dos �nicos rockstars do Brasil. De resto, tenho tido dificuldade em me divertir com discos. Meu poder de descarte est� foda.

E o que voc� tem feito para se divertir?

Cara, eu jogo bola umas tr�s vezes por semana e me divirto � be�a. Tamb�m vou � praia, fa�o reuni�o com os amigos...

Futebol tr�s vezes por semana, j� dar pra bater uma bolinha decente, n�o?

� c�clico, n�? �s vezes vem a m� fase... No momento eu estou bem.

Texto enviado por: Fabiano Moraes - Legi�o Urbana Web F� Clube

 

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