Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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FACISTA N�O TEM NADA A VER COM ROCKNROLL (Trechos da entrevista a Celso Ara�jo, Correio Braziliense, 17 de novembro de 1985) RR - Foi superlegal tocar em Bras�lia. Dessa �ltima vez a gente at� ficou surpreso com o pessoal porque a receptividade foi muito, muito boa. O pessoal queria subir no palco, eles invadiram o palco umas duas vezes para tentar agarrar a gente, no show tinha umas meninas berrando. E para sair foi tipo Beatles, ou ent�o tipo Menudo. Carro com a porta aberta, motor ligado e aquela confus�o. Todo mundo querendo aut�grafo e tudo. Sob esse aspecto eu achei �timo, quer dizer, a gente est� com um p�blico legal em Bras�lia. Tamb�m � a cidade onde a gente come�ou, n�o �?! Acho que � mais ou menos natural. A �nica coisa que eu n�o gostei em Bras�lia foi a pr�pria cidade, fiquei um pouco decepcionado com a atmosfera da cidade. Se bem que eu acho que era por causa da �poca da seca, porque durante a seca fica todo mundo meio borococh�. Mas eu senti assim muito fascismo por parte das pessoas. � uma coisa que, claro, a gente j� sabia que isso existia, tanto � que metade das nossas m�sicas s�o feitas em cima disso, falando desse tipo de comportamento que o pessoal, principalmente a juventude tem em Bras�lia. Mas dessa vez foi uma coisa meio chocante porque as pessoas em Bras�lia n�o t�m respeito por nada. N�o respeitam, n�o existe liberdade de opini�o, foi o que eu senti. Tirando, claro, as pessoas, que s�o pessoas bonitas. Mas isso em qualquer lugar tem. Agora, em geral, eu achei o pessoal de l� muito fascista, muito babaca, principalmente a juventude, muito cheia de ti-ti-ti, muito ligada ao Rio e S�o Paulo e � uma coisa que a gente n�o via porque quando a gente estava em Bras�lia a gente estava agitando, ent�o fica mais f�cil imaginar que a cidade � diferente. Tamb�m naquela �poca tinha quem? Tinha o Plebe, tinha o Capital, tinha a gente, tinha Escola, tinha o Finis, milhares de outras bandas. A gente estava num astral legal l�. Foi s� sair que eu senti justamente isso. Parece que os filhos desses corruptos s�o mais corruptos que os pais. Ent�o houve et�rias horr�veis do pessoal agora estar usando rev�lver, dando uma de mach�o etc. Eu pessoalmente acho isso homossexualismo latente: "A�, recadinho para voc� que usa rev�lver para aterrorizar menina na cidade: vai ler Jung, vai ler Reich, vai ler Freud para ver se voc� ser voc� se encaixa perfeitamente". N�o, porque l� tem muito disso, n�? Aqueles dez carinhas assim tudo fortinho, ficam co�ando o saco e dando uma de mach�o. P�, vai arrumar uma namorada, vai se divertir! Como � que est� sendo para voc� essa r�pida e vertiginosa ascens�o da m�sica brasileira, a coloca��o de voc�s como cr�tica, bom, essa import�ncia da banda, do trabalho de voc�s? Como � que foi a n�vel interno seu de processo, de vida e como � para a pr�pria banda? Quais s�o as quest�es que voc� lan�a? RR - Bem, primeiro que a gente ainda est� assim, essa ascend�ncia vertiginosa ainda n�o aconteceu. A gente ainda n�o � muito conhecido, a gente � quase t�o conhecido quanto Ultraje e Paralamas , mas a gente ainda n�o chegou l�. Espero que talvez at� o final do ano... Sim, porque eu acho que o tipo de m�sica que a gente faz n�o � um tipo de coisa assim extremamente popular. Ent�o a gente estourou com "Gera��o Coca-Cola" e s� est� fazendo o maior sucesso e tudo. Mas eu acho que a gente nuca vai chegar ao ponto de ser a banda mais popular do Brasil, principalmente pelo que a gente fala. Certas pessoas est�o dispostas ou ent�o n�o t�m capacidade de ouvir o que a gente fala. Quer dizer, ou ent�o n�o gosta mesmo, preferem ouvir coisas mais leves, mais suaves do que ouvir uma coisa um pouco mais realista, e o nosso trabalho � assim, mais ligado a coisas realistas e n�o em blau-blaus e "Vaquinha Mary Lou" etc. Ent�o isso tem esse aspecto. Agora, n�o foi uma subida vertiginosa, a gente est� nessas desde 78. Poxa, s�o 7 anos nisso. As pessoas � que pensam que come�aram a ouvir agora. (...) Eu acho que as pessoas se ligam no que a gente faz justamente por causa disso, a gente tem um coisa que n�o � muito comum em grupos brasileiros. Aqui no Brasil tem muito dessa coisa de humor, da s�tira, da ironia e a gente usa a ironia de uma forma diferente. Ent�o � uma coisa, n�o diria sofisticada porque seria a gente se achar metido a besta e eu acho que a gente � uma banda comum como as outras, mas a gente tem uma coisa diferente. N�o � para falar mal de nada, mas, por exemplo, voc� tem uma m�sica como "Vaquinha Mary Lou e Galinha Sara Lee" que faz o maior sucesso, tudo mundo dan�a e se diverte e � uma coisa ir�nica. Agora, a ironia da gente � fazer uma m�sica chamada "Baader-MeinhofBlues", � um outro n�vel, envolve um outro tipo de informa��o. Acho que a gente tem uma certa carga de forma��o. Desde o come�o a gente sempre se ligou muito no que acontecia l� fora e tamb�m no que acontecia aqui dentro. Eu ainda fico surpreso como uma pessoa como Luiz Melodia n�o tem acesso ao p�blico, como o Itamar Assun��o continua maldito. Ent�o fico um pouco surpreso com isso, porque na minha cabe�a Legi�o continua a fazer a mesma coisa que fazia antes. A �nica diferen�a � que ao inv�s de tocar para um p�blico de 500 pessoas em Bras�lia a gente est� tocando para esses gin�sios de 10, 15 mil pessoas. O que eu sinto tamb�m � que as pessoas n�o v�em exatamente o que est� acontecendo e ent�o elas picham o rock brasileiro e tudo, mas, de certa forma, o rock brasileiro est� dando uma for�a para as gravadoras, est� fazendo circular o capital, que � uma coisa muito importante, porque se ficar dependendo do pessoal da MPB n�o vai para a frente porque, no momento, n�o � o que o p�blico quer. Veja voc� que um artista como o Milton, como a Simone, ou como o Caetano ou como o Gil, eles continuam fazendo bel�ssimos trabalhos mas realmente n�o est� circulando o capital e no Brasil principalmente � justamente o sucesso de artistas dentro de uma determinada gravadora que abre o caminho para outro artistas que t�m propostas que n�o s�o t�o comerciais. Ent�o � uma coisa assim que eu sei � que a gente est� aqui na Odeon e que a gente conseguiu esses espa�o por causa dos Paralamas. Que cr�ticas e que crises voc� sente mais claras hoje nessa quest�o da ind�stria, da qualidade do rock no Brasil? Quais s�o as perspectivas que voc� sente andando por a� e ouvindo tudo? RR O que acontece � que o rock por ser um produto de massa envolve justamente a gravadora. Todo artista de rock, al�m de tocar ao vivo, l�gico, quer gravar um disco. Em qualquer outro lugar do mundo, principalmente no hemisf�rio norte, um disco tem um compacto e j� sobe nas paradas e j� vende milh�es de c�pias. Aqui n�o, para voc� vender 100 mil c�pias num pa�s que tem 150 milh�es de habitantes � considerado um milagre. Ent�o essa � a primeira dificuldade do rock no Brasil porque voc� vai ter que enfrentar um esquema de gravadora que � mais ligada ao pop do que ao rock. O pop sendo, no caso, m�sica de consumo de massa. Ent�o o rock no Brasil n�o � visto como uma forma de express�o art�stica do jovem, de express�o dos anseios, o que ele v�, as alegrias, os problemas, como ele v� o mundo, a pol�tica, o sexo, as drogas, a religi�o etc. O rock, no caso aqui, est� muito mais ligado ao aspecto do consumo, a uma cultura de consumo, ao mercado de massa. Agora, isso � dificultado tamb�m pelo esquema da r�dio. Se bem que aqui no Brasil a gente j� tem algumas r�dios alternativas. Mas a maioria das r�dios est� no esquema do boss R�dio, B-O-S-S, que � uma coisa que aconteceu no final dos anos 60 nos Estados Unidos, que � seguir uma forma. Voc� tem a lista das 30 ou 40 m�sicas que s�o sucesso ent�o � repetir essas m�sicas ad nauseam mais e mais e mais at� encher o saco e vender o produto. O disc-jockey n�o tem personalidade, quase n�o fala nada e � aquela coisa: "pois �, gente, ent�o agora vamos ouvir o sucesso da r�dio KJYZ, n�o sei o qu�. Aqui, voc�s sabem, � s� sucessos." Ent�o o que uma r�dio toca todas as r�dios v�o e tocam atr�s. Sabe, eu ou�o o que eu gosto de ouvir, eu n�o tenho que ouvir o que as outras pessoas est�o ouvindo. Cad� a minha individualidade? P�, eu sou um animal racional, sou �nico, n�o estou preso a ningu�m, n�o sou um bicho de tr�s cabe�as. A�, n�, o pessoal ficava puto! Justamente esse mesmo pessoal que agora fica dan�ando Dead Kennedys e B-52s nas festas e pichando Caetano, Chico e Milton! Mas espere a�, cad� o teu poder de raciocinar? Por que Chico � ruim agora e antes n�o era? Por isso � que acho importante o pessoal que deu for�a para a gente em Bras�lia, os jornalistas, os intelectuais, o pessoal do Liga Tripa estava ligado em tudo e ligado na gente e hoje voc� vai l� conversar com eles e eles continuam ouvindo o Clube da Esquina, continuam ouvindo Vadr� e Ravi Shankar e Jazz Rock e est�o ligados a muitas outras coisas. Eu acho que voc� n�o pode ser um fascista cultural. Esse neg�cio de patrulha ideol�gica eu acho que � a coisa mais furada do mundo. As pessoas mais bonitas que eu conhe�o s�o justamente as pessoas mais abertas. Ent�o eu acho que seria t�o legal se as pessoas come�assem realmente a se curtir, � uma coisa que eu nunca desisto. As pessoas dizem que eu sou ing�nuo mas n�o consigo desistir. Descobri que eu sou um artista e ent�o n�o tem assim... O artista tem milhares de preocupa��es, � uma pessoa superangustiada e tudo, sabe, voc� v� a vida de uma outra maneira, voc� � muito mais sens�vel aos problemas. Tem dias que eu nem leio o jornal. S� pego assim e s� leio as manchetes principais porque se eu ler o jornal vou ficar superdeprimido e n�o vou querer sair de casa. Ent�o eu acho importante que as pessoas tenham contado com outros tipos de realidade em vez de ficar s� naquele mundinho, porque isso ajuda, mostra que o ser humano n�o � s� um tipo de pessoa. (...) Primeiro uma quest�o que voc� falou da rela��o da MPB e rock. Como esse rock se relaciona com a m�sica brasileira, por exemplo? RR Eu n�o sei. Acho que o rock n�o pode ser delineado assim m�sica brasileira, porque rock � musica universal. Por ser uma m�sica de massa da sociedade tecnol�gica do p�s-guerra, � uma m�sica feita por e para jovens, e � um pessoal que sempre esteve ligado em televis�o, sempre esteve ligado em videogame, fliperama hoje em dia � videogame , mas sempre foi uma coisa muito el�trica, muito urbana, � a m�sica da metr�pole, � m�sica da cidade. Voc� v� a beleza numa certa situa��o que se voc� n�o se adaptar a essa situa��o voc� vai enlouquecer. Ent�o � voc� realmente ver m�sica onde as pessoas mais antigas n�o v�em porque n�o est�o acostumadas com isso. Ent�o � voc� ver m�sica na fuma�a, � voc� ver m�sica no ritmo das pessoas, nos arranha-c�us, na pr�pria vida r�pida da cidade. E eu acho que o rock estaria muito mais ligado tamb�m na quest�o et�ria. Rock � um tipo de m�sica que atende � necessidade de um determinado grupo de uma determinada faixa de idade. Ent�o voc� n�o pode simplesmente chegar e dizer que o rock � como o jazz, � como a m�sica cl�ssica, ou mesmo como MPB na qual os artistas que fazem esse tipo de m�sica procuram uma express�o universal no sentido de que o artista da MPB est� falando para todas as pessoas. Claro, isso n�o seria delimitar o rock a um determinado p�blico, mas, na verdade, estou falando de certos problemas que por eu ter essa idade ou certas experi�ncias que uma pessoa de 40 anos n�o vai ter mais esse tipo de problema: problemas de identidade sexual, problemas de chegar em casa e querer ter o carro para sair e voc� n�o pode porque voc� n�o tem dinheiro para pagar o g�s, voc� n�o tem dinheiro para comprar um carro, voc� depende de seus pais para isso e isso � uma coisa especificamente da idade. Ent�o eu acho que essa discuss�o MPB versus rock � uma coisa duplamente rid�cula, porque isso implica na ignor�ncia do que � realmente o rocknroll. Rocknroll � uma m�sica de jovens para jovens. Ao passo que a gente n�o pode chegar e dizer que a MPB � uma m�sica de velhos para velhos porque isso � uma coisa rid�cula tamb�m porque o artista popular brasileiro no caso que vai desde Tom Jobim at� talvez Sidney Magal ou Roberto Carlos, n�o sei, procura a express�o no termo mais aberto poss�vel. Ent�o, por exemplo, o milton Nascimento cantando "Travessia" � uma m�sica que... � um tema estritamente rocknroll. Ele fez aquiloem cima da idade dele. A letra de "Travessia", se voc� pegar, � uma fase que ele estava passando, mas � feita de certo jeito que at� uma pessoa de 70 anos pode assimilar tudo... Ent�o seria a vantagem da MPB. Agora, se ele pegasse aquilo e fizesse um contexto rock, como a Rita Lee j� pegou o mesmo tema e j� fez certas coisas, inclusive neste �ltimo LP, ent�o fica mais restrito. Por isso � que n�o se pode comparar MPB com rock porque � uma coisa que n�o tem a ver. O rock � feito de uma forma espec�fica para atingir um lance espec�fico. Ent�o n�o d� para voc� comparar. Agora, essa compara��o � feita justamente porque os meios de massa pelos quais o rock � divulgado e � produzido e � massificado no Brasil s�o justamente meios que n�o fazem essa separa��o. Ent�o l� fora voc� vai ter clubes alternativos de rock, voc� vai ter imprensa alternativa mesmo que seja a grande imprensa � imprensa alternativa vai ter as lojas alternativas de rock, voc� vai ter produtoras, gravadora e produtores independentes, essas coisas todas. Ao passo que aqui no Brasil eles colocam tudo dentro do mesmo saco. Quer dizer, se o Egberto Gismonti quer atingir um p�blico um pouco maior ele n�o vai estar competindo na mesma faixa que o p�blico do Hermeto, por exemplo. Ele vai ter justamente que ser colocado dentro do mesmo saco que o Sidney Magal, que o Amado Batista, que o Kid Abelha etc. Agora tem um outra coisa a� que muita gente se esquece, � o que o pessoal da MPB n�o segurou a peteca. Todos eles se acomodaram. Ent�o eles falam muito mal do rock, principalmente o Fagner, que fala mal. Eu gostaria at� n�o � comprar briga, mas eu gostaria de deixar uma coisa bem clara: o Fagner fala que o pessoal da gera��o dele tem mais cultura. Agora eu coloco justamente esta quest�o que o Jornal do Brasil falou: n�o � o Renato Russo que est� falando, eu estou simplesmente repetindo uma coisa que eu achei um achado genial. O Fagner disse que o pessoal da gera��o dele tem mais cultura, mas pelo menos da nossa gera��o ningu�m roubou poesia da Cec�lia Meireles para colocar em m�sica sem pagar direito autoral. Ent�o a gente tem a nossa cultura, mas a gente n�o faz esse tipo de coisas. E, sabe, a gente n�o precisa ir para os Estados Unidos para gravar um disco que vai custar 800 mil d�lares, como fez o Djavan n�o tenho nada contra mas � a tal est�ria: n�o seguraram e n�o seguraram. Por que Caetano est� tocando "Shy Moon" na r�dio: Por que Gilberto Gil est� a� ainda? � porque eles acompanham, eles s�o artistas de verdade e que est�o acompanhando o momento presente. � muito f�cil voc� chegar e reclamar que voc� n�o est� tendo acesso ao r�dio se voc� fica numa forma musical e n�o tenta aprimorar o seu trabalho, como, por exemplo, eu n�o acho que o Chico tenha feito muitas novidades e eu n�o acho que o Milton tenha feito muitas novidades, mas voc� tem que cair na real. No Brasil, � um sistema que engole o que acontece se voc� ficar estagnado... N�o � como l� fora que voc� pode fazer um trabalho, por maior qualidade que o seu trabalho tenha, ficar na mesma linha eu n�o sou nem contra, acho que se voc� est� nessa linha voc� tem , mas, infelizmente aqui no Brasil o p�blico gosta muito de novidade. Se voc� n�o tiver novidade, voc� cai para escanteio. Ent�o o que pintou no Brasil � que tipo assim os artistas que eram talentosos e que na �poca tinham alguma coisa nova para dizer uma coisa nova a ser dita de uma maneira supercriativa e superbela n�o sendo jogados de lado. E a� acontece o qu�? Acontece o rock novidade e pegou espa�o. Agora n�o pensem que a gente n�o est� preocupado. Eu converso com o Herbert e a gente est� se cagando nas cal�as porque a gente n�o sabe o que vai acontecer. Eu estou sentindo uma press�o muito grande por parte de todo mundo principalmente em cima da Legi�o Urbana, porque est� todo mundo esperando justamente que a gente fa�a uma coisa nova. S� que agora, para o nosso segundo disco, a gente n�o vai ter o per�odo de incuba��o que foi de cindo anos para fazer esse LP. Ent�o a gente vai fazer o que a gente quiser agora nesses seis meses vai chegar o p�blico muito mais rapidamente. Ent�o o que estou pensando � justamente tipo assim: assim como o pessoal est� assimilando "Gera��o Coca-Cola" agora, 5, 6, 7, anos depois ser� que eles v�o assimilar t�o imediatamente uma coisa que vai refletir o meu momento atual ou o momento atual do Herbert no pr�ximo disco dele? Ent�o � isso que gente est� pensando. N�o pensem que a gente est� no bem-bom porque quem faz rock tamb�m est� tendo as mesmas dificuldades de cria��o, e tudo porque � muita press�o principalmente no caso dos cr�ticos, que quando a gente apareceu todo mundo ficou surpreso porque eles achavam que quem faz rock n�o � inteligente. Ent�o aparecendo a gente, o RPM, os Volunt�rios da P�tria, o Ira, Paralamas, ent�o o pessoal: "Poxa, mas realmente. Olha que bacana, o pessoal que faz rock tem cabe�a. N�o � aquela coisa antiquado de ficar s� fazendo vers�es e s� cantando blau-blau!" O que acontece � que eles s�o muito exigentes. Ent�o o que eu estou sentindo � que eles v�o exigir uma coisa muito forte da gente quando, de repente, eu n�o estou mais a fim de fazer umas coisas t�o s�rias assim, eu quero fazer uma m�sica que as pessoas se sintam bem, claro, com uma letra assim que tenha um certo conte�do mas sem precisar falar de ang�stia, solid�o, suic�dio, morte e peste. Os anos 80 s�o esse liquidificador justamente para mostrar que voc� usar o entretenimento e, dentro do aspecto de massa, voc� fazer uma coisa que vai ser considerada arte. Ent�o, por exemplo, os Beatles nunca forma l� de fazer coisas muito profundas, existenciais. Claro, eles tinham um certo lado, mas era uma coisa de divers�o. Ent�o eu acho que voc� pode fazer uma coisa divertida, para cima e ser uma coisa que vai ter o seu valor porque o que eu acho que pinta muito no aspecto da cr�tica no Brasil � justamente que eles se apegam muito a essa coisa do triste, do Sartre, dessas coisas existencialistas, do pessimismo, da coisa dark. Claro, se voc� est� angustiado, se voc� est� sozinho numa superparan�ia e esquizofrenia e se voc� tiver um pouco de talento vai sair uma coisa bel�ssima. Mas p�, pera a� voc� tamb�m pode usar o teu lado positivo para fazer uma coisa legal. Ent�o eu acho que o nosso impasse � justamente esse. Como tenho que fazer uma coisa honesta e sincera e que seja para cima, pra dar uma for�a pra que as pessoas descartem isso. Porque tamb�m tem essa, se voc� faz uma coisa que � para cima as pessoas imediatamente n�o v�o levar voc� a s�rio porque acham que voc� n�o est� falando uma coisa s�ria porque nesse caso elas exigem que voc� parta ou para a s�tira, ou para a ironia oua para o humor. Como � que voc� compreende o fen�meno Bras�lia? Como seria a rela��o da cidade Bras�lia como os outros centros na quest�o da ind�stria, do espet�culo acontecer l� tamb�m, do show acontecer l�, dos shows que se realizam l�, da coisa profissional, do campo, do mercado? RR Isso eu acho superpositivo porque moro em Bras�lia desde 73. Antigamente n�o acontecia nada e agora que estou mais no meio art�stico d� para notar que � ma parada obrigat�ria no circuito, acho que � uma coisa importante. (...) O que sinto � que as pessoas n�o curtem Bras�lia, n�o vivem Bras�lia ainda. Foi uma coisa que sempre foi positivo para o pessoal da tribo, da gente do rock � que a gente catava e ia atr�s, ent�o tinha festival no instituto Goethe, por exemplo, a gente ia atr�s. E o que acontece � que muitas pessoas em Bras�lia vivem como se estivessem no Rio e S�o Paulo no sentido de n�o procurar as alternativas e acho que Bras�lia tem muito para oferecer. Voc� acha que inclusive a cidade gerou isso de uma maneira pr�pria no Brasil? RR Talvez. Voc� acha que � uma coisa espec�fica das bandas de Bras�lia? RR Talvez, porque a gente fazia rock por necessidade l�. Al�m de ser uma necessidade de voc� ir contra o t�dio da cidade, muita gente que tem o hobby, muita gente faz alguma coisa, muita gente transa esportes que eu acho assim fabuloso, Tirando isso � uma necessidade f�sica mesmo d voc� se expressar e tudo. Ao passo que se eu estivesse aqui no Rio, ia para praia, ia comer um sandu�che natural e n�o teria tanta necessidade assim. E acho que Bras�lia � importante por causa disso, voc� tem essa motiva��o. � uma cidade que te inspira, � uma coisa muito dela, � uma cidade muito bonita. Tem um certo astral, n�o parece uma cidade brasileira. Agora, acho que as pessoas em Bras�lia poderiam tipo assim se organizar porque ainda � relativamente pequena, tem uma esp�cie de organiza��o comunit�ria talvez at� a n�vel pol�tico, para ajudar as sat�lites, acho que o Plano Piloto vive numa ilha, isso � uma coisa muito negativa que devia estar sendo feita, uma coisa nesse sentido para dar for�a para o pessoal das sat�lite, ainda mais que tem muita gente que trabalha no Plano Piloto e mora no Cruzeiro, mora em Taguatinga e d� uma for�a nesse sentido, exigir do pessoal que representa a cidade politicamente, que se fa�a alguma coisa para que tudo fique numa boa. N�o � t�o dif�cil voc� prever que possam surgir problemas num futuro pr�ximo por causa desse disparate social que existe. Da �ltima vez que fui, senti isso, um ressentimento brabo das pessoas que circulam pela rodovi�ria, no sentido de estarem insatisfeitas de verdade e acho que isso � uma coisa que n�o precisa. N�o estou dizendo que todo mundo na Ceil�ndia tem que ter piscina, mas respeitar um pouco os outros, n�o ser esse exagero de mordomias que � Bras�lia, esse exagero de ostenta��o, acho que podemos trabalhar para isso, transportes p�blicos, escolas, dar uma for�a para o pessoas de Bras�lia. Colabora��o: Maira Yuka |
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Skooter 1998 - 2008 |
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