Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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A TURMA DA COLINA (As hist�rias do in�cio do rock-Bras�lia, surgido no final dos anos
70 embaixo dos blocos habitados por professores da UnB, s�o contadas em livros que devem
ser lan�ados no ano que vem) (Tereza Albuquerque da Equipe do Correio) T�DIO ENGOLIDO PELAS GUITARRAS S�o Paulo - Paulo Marchetti era um garoto quando conheceu a turma da Colina. Morava na 111 Sul e ainda levava a bola embaixo do bra�o para os shows no Foods, a lanchonete da EQS 110/111 onde as bandas tocavam no in�cio dos anos 80. L� viu a Plebe Rude, o Aborto El�trico, a Blitz 64. Tinha 12 anos, e acabou largando a bola para ficar com a turma. Ex-integrante da banda Filhos de Menghele, ele fez parte da turma de
1982 a 1987, ano em que se mudou para S�o Paulo. Hoje, aos 28 anos, � diretor e produtor
da MTV. Ainda n�o escolheu o t�tulo do livro que est� escrevendo sobre a turma da
Colina (deve ser algo com di�rio, como O Di�rio da Turma ou O Resgate do
Di�rio), mas o imagina nos moldes do di�rio punk
Mate-me, Por Favor, de Legs Mcneil e Gillian McCain. A hist�ria � contada pelos
personagens, com os depoimentos deles, e n�o pelo autor. `N�o � autobiografia, � a hist�ria da turma, de como eu me
lembro dela. � o que chamam de reality fiction, hist�rias reais lidas como um
romance, diz o vocalista do Capital Inicial, que escreveu 20 cap�tulos. O
trabalho foi interrompido por causa das grava��es do novo disco da banda, mas ele diz
que voltar� ao computador o mais r�pido poss�vel. Dinho tem pressa. H� um filme
esperando por ele.
Paulo Marchetti n�o quer pol�mica. Quero mostrar o lado divertido da hist�ria, fazer um livro para mostrar para os netos, diz ele, que pretende lan��-lo em 1999, acompanhado de um CD e/ou fita com m�sicas de bandas da �poca. Uma das cogitadas � Diamante Cor-de-Rosa, banda de carreira curt�ssima (come�ou em 1983, terminou em 1984) que se apresentava com gravatinhas vermelhas e terno alaranjado no Radikaos (bar da 105 Norte) e na UnB. Lugares que eles freq�entavam na �poca s�o abordados no livro, como
o Radicaos, o Quentinho na 108 Sul, depois trocado pela adega da 102/103 Sul (atr�s do
Janj�o, no Cine Centro S�o Francisco), o Foods (a lanchonete da 110/111 Sul) onde
as bandas tocavam aos s�bados, as festas, os acampamentos, a Colina, o Panel�o de Arte
(projeto musical realizado na 312 Norte), o Teatro Galp�o (508 Sul). Um cap�tulo ser�
dedicado a Renato Russo, outro ao guitarrista Fej�o, mortos em 1996. Em 30 dias, tinha falado com 40 pessoas. Semana passada, ele entrevistou Bi Ribeiro e Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso. Bi morou na 104 Sul, na mesma quadra de Herbert, e saiu de Bras�lia em 1978, quando foi estudar na Universidade Rural do Rio de Janeiro. N�o estava mais na cidade quando tudo come�ou, mas sempre voltava nas f�rias e encontrava a turma. Sa�a com eles, ia �s festas, era muito divertido, lembra o baixista dos Paralamas. A Rural vivia em greve, Bi ia direto para
Bras�lia, conta o irm�o dele, Pedro Ribeiro. Como ningu�m tinha
carro, e o Bi tinha um Passat verde, ele era o Bisum (trocadilho com �nibus, em ingl�s).
Nesse carro a gente colocou 14 dentro, brinca Pedro, 34 anos, hoje produtor
t�cnico dos Paralamas. A PRIMEIRA "QUEBRADA" Foi nessa Bras�lia torta, caindo aos peda�os, que Dado, Pedro e Dinho foram pela primeira vez a uma das quebradas do Lago, onde a turma da Colina se reunia. Na �poca, no comecinho dos anos 80, eram umas 10, 15 pessoas, quase todas das bandas. As quebradas (praias de lama, segundo Dinho)
eram um dos programas favoritos de Renato Russo. Eles colocavam os carros em semic�rculo,
com os far�is ligados, armavam fogueiras, levavam um garraf�o de vinho e ficavam l�,
conversando a noite inteira sobre m�sica, literatura e cinema. Dinho e Dado logo sairiam da figura��o. Ficaram at� mais famosos que Andr� e a Plebe. Mas passaram pela tal fase de indiferen�a, como todos os rec�m-chegados. Nesse primeiro encontro na quebrada (no final do Lago Sul), foram at� bem recebidos. J� tinham assistido aos shows do Aborto e da Blitz 64, e ali quase todos eram integrantes das bandas. Eles esperavam falar de m�sica, mas a primeira pergunta que ouviram
naquela noite foi: E a�, voc�s gostam de ler?. Era a
�ltima coisa que esperava ouvir, lembra Dinho. A sorte � que eu
tinha lido os livros prediletos deles, coisas como O Apanhador nos Campos de Centeio e
Admir�vel Mundo Novo . Para o vocalista do Capital Inicial, isso dificilmente se repetiria nos dias de hoje. H� a MTV, as revistas, as r�dios, o acesso � informa��o. Ningu�m tem mais a sensa��o de ser o �nico que conhece os Sex Pistols. Us�vamos casacos do Ex�rcito achando que �ramos os �nicos do Brasil. Olhando para tr�s, Dinho Ouro Preto v� o rock brasiliense como um movimento cultural que se estende a cantoras como C�ssia Eller e Z�lia Duncan e bandas dos anos 90, como Raimundos e C�mbio Negro. Todos eles fazem parte do mesmo movimento, mas acho que os pr�prios n�o percebem. Nem a Plebe Rude nem os Paralamas percebem. A gente n�o soube conduzir essa hist�ria. Cada um foi cuidar de sua carreira, e essa pulveriza��o fez mal � integridade da id�ia. At� 1983, era uma causa comum. Eram tempos pesados, de regime militar. Tocar rock no Planalto Central era subversivo naquela �poca, lembra o baterista F� Lemos. Faz�amos nossa pr�pria m�sica, nossas pr�prias festas e roupas. Todo mundo usava casaco do Ex�rcito, as cal�as tinham 10 mil remendos, eram verdadeiros trabalhos de arte. Adorava aquilo. �ramos adolescentes vivendo o sonho de ser diferente.
S�o Paulo - Filho de Briquet Lemos, diretor da editora da UnB, Felipe morava na Colina quando come�ou a tocar bateria no Aborto El�trico. Em dia de show ou de ensaio, descia tr�s lances de escada com o equipamento. Cabia tudo no carro, lembra. N�o era muito: uma bateria e um amplificador. Depois ficou sofisticado, t�nhamos dois amplificadores! F� Lemos tinha 16 anos em 1978. Estudava na Cultura Inglesa, tinha voltado da Inglaterra e vivia falando dos Sex Pistols. Renato Russo tamb�m adorava a banda de Sid Vicious. No dia em que deu de cara com um punk loiro na Taberna (103/104 Sul), foi a primeira coisa que perguntou: Voc� gosta dos Sex Pistols?. Yeah!, respondeu Andr� Pretorius. Foi a senha para eles formarem a banda. Renato no baixo, Pretorius na guitarra. Com F� na bateria, o Aborto El�trico ainda ensaiava em 1979. Em 1980, ano em que o trio fez os primeiros shows no S� Cana, no Gilberto Salom�o, e no Chaplin, na 110/111 Sul (depois a lanchonete virou Foods), F� j� tinha se mudado para o Lago Norte. N�o precisava mais descer tr�s andares de escada, com a bateria nas costas. Em entrevista � revista Bizz, em 1989, Renato Russo disse que o Aborto acabou virtualmente quando Andr� Pretorius foi servir o ex�rcito na �frica do Sul. Passei do baixo para a guitarra ensinei Fl�vio (irm�o de F�) a tocar baixo e ele entrou na banda. Foi a� que comecei a usar as letras, porque eu tinha vergonha de cantar. F�, Fl�vio e Renato dividiam os palcos da cidade com a Blitz 64 (que virou Blitx ), de Gutje, Loro e Gerusa os seis j� costumavam ir para a Colina � noite, ouvir m�sica e falar da vida, dos pais e das namoradas. Cada banda tinha um amplificador. Uma banda era a plat�ia da outra. �s vezes rolava uma jam, ri F�. A Blitz 64 foi formada em 1979, seis meses depois do Aborto. A gente tocava debaixo do bloco do F�, ou ent�o na casa dele, na Colina, at� o Seu Briquet n�o querer mais, lembra Gerusa. Quando F� mudou para o Lago Norte, a gente continuou tocando embaixo do bloco, ou ent�o na casa do Gutje.
Dado Villa-Lobos e Dinho Ouro Preto assistiram a um desses shows na lanchonete da 110/111 Sul. Todos os instrumentos e a voz ligados ao mesmo amplificador produziam uma distor��o que n�o parava sequer entre as m�sicas, diverte-se o vocalista do Capital Inicial, no primeiro cap�tulo de seu livro. A banda, seu equipamento e seu p�blico cabiam todos numa kombi. E apesar de pouqu�ssimos (tr�s), causavam uma como��o e tanto. Dinho ficou impressionado com Renato Russo desde a primeira vez que o viu. Como ele parecia cosmopolita... E como era culto. Conhecia m�sica, cinema, literatura. Era o mais velho da turma, uma esp�cie de guru, e estimulava essa hierarquia na turma. Era retra�do, �s vezes n�o aparecia. Foi assim at� o final. Tenho a impress�o de que esse per�odo serviu como treinamento para a Legi�o Urbana. Marcelo Bonf�, baterista da Legi�o Urbana, tamb�m virou f� no primeiro encontro: Ouvi o Aborto El�trico e fiquei arrepiado. Era uma coisa muito forte, uma energia inexplic�vel. Comecei a tocar bateria por causa disso. Renato era o primeiro da turma. F�, o segundo no comando. Depois do Aborto El�trico (o nome era uma refer�ncia aos cassetetes el�tricos; por causa deles uma menina gr�vida perdeu a crian�a) e da Blitx (o nome mudou depois que picha��es da Blitz 64 foram fotografadas pela pol�cia), viria uma s�rie de bandas. Antes de formar a Plebe Rude, o baixista Andr� Mueller (Andr� X) montou as bandas Os Metralhas e SLU. Bonf� tocou nos Metralhas, e tamb�m no Dado e o Reino Animal, com Dado Villa-Lobos. Mas o Aborto era a banda principal. J� tocava m�sicas que mais tarde ficariam conhecidas com a Legi�o Urbana: Que Pa�s � Este, Gera��o Coca-Cola e T�dio (com um T bem grande pra voc�). Quando o Aborto El�trico terminou, depois de uma briga com F�, em 1982, Renato virou o Trovador Solit�rio. Fez Faroeste Caboclo, Eduardo e M�nica, e continuou tocando sozinho. Ele ia muito ao Foods, com o viol�o, lembra Paulo Marchetti. Sem o Aborto, Andr� Mueller, Jander Bilaphra, Gutje Woorthman e
Philippe Seabra assumiam a lideran�a nos palcos. A Plebe Rude era a melhor
banda da �poca, em 1982 era ela quem mandava, afirma F� Lemos.
Era a minha favorita, disse Renato em entrevista ao Correio, em
1996.
Eles come�aram com um show na ABO (615 Sul) e, ainda em 1983, j� estavam tocando no Rio e em S�o Paulo. Praticamente todo final de semana a gente estava fora de Bras�lia, conta F�, que trancou a matr�cula na faculdade de Psicologia, na UnB, para se dedicar � banda. Fl�vio Lemos trocou a F�sica pelo baixo. No Rio, o Capital recebeu seu primeiro cach� por um show no Circo
Voador. Eram 10 mil cruzeiros, algo como R$ 100 hoje, lembra o
baterista. Nem acreditava. Fiquei embasbacado com meu primeiro cach�. Seis
anos depois de come�ar a tocar, recebi alguma grana. Cach� era coisa de outro
mundo. F� Lemos tamb�m ri da ingenuidade daqueles tempos, quando eles se divertiam assustando guardinhas da UnB, invadindo festas de boy com uma fita punk na m�o , nas quebradas em volta da fogueira e acampando em Itiquira. Nunca pensei que f�ssemos chegar onde chegamos. Renato sabia, tinha visto tudo antes. Ele sempre soube. Dizia para mim: Pois �, quem vai comprar a primeira ilha sou eu. Estava certo.
Texto enviado por:
Fabiano Moraes - Legi�o Urbana Web F� Clube |
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