Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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DISCO DO LEGI�O � TESTAMENTO PARA OS F�S

'Uma Outra Esta��o', lan�ado h� menos de um m�s e com 300 mil c�pias vendidas, � uma homenagem do grupo a Renato Russo, produzido com rever�ncia e emo��o, que resultou num trabalho extraordin�rio

(Estado de S�o Paulo - 07/08/1997)

(Por Luiz Antonio Mello)

 

Foram-se os dedos, ficaram os an�is. A carta-testamento do Legi�o Urbana chama-se Uma Outra Esta��o, que j� vendeu 300 mil c�pias em menos de um m�s de lan�amento. Apesar de haver ainda muitas horas gravadas ao vivo e at� alguns momentos in�ditos de ensaios, que est�o guardados, Uma Outra Esta��o � e ser�, definitivamente, a �ltima mensagem de Renato Russo para os f�s, cujas veias e almas deixou abertas e �rf�s. O disco � uma homenagem p�stuma do�da de seus companheiros de banda Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonf�, que, sob o manto da admira��o, produziram um trabalho reverencial, solid�rio, comocional e �tico. Um belo e extraordin�rio disco da banda, em torno de Renato.

O trabalho anterior, o desesperado A Tempestade, lan�ado praticamente em tempo real com a morte de Renato Russo, encalhou. N�o vendeu quase nada porque os f�s da Legi�o Urbana e de Renato, em particular, estavam completamente chocados e incr�dulos diante de sua morte. Morte anunciada que o pr�prio Renato s� come�ou a admitir pouco tempo antes de partir. Fez-se um v�cuo de migalhas que s� agora come�am a ser catadas e absorvidas pelas gera��es carentes de �dolos.

Numa entrevista longa e sincera ao tabl�ide de rock International Magazine, que est� nas bancas, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonf� reclamam com raz�o. "�ramos totalmente subestimados pela m�dia", dizem guitarrista e baterista do extinto Legi�o. � verdade. Durante anos a fio foram acusados de tocar mal, compor mal, tachados de med�ocres. Adere�os de Renato Russo, em suma. Mas quem se dispuser a rever toda a obra do Legi�o analisando o trabalho de Dado e Bonf� isoladamente (e isso � dif�cil) vai perceber que eles est�o longe de tocar mal. Eles s�o, apenas, aut�nticos m�sicos de Rock and Roll, influenciados por Joy Division, Sex Pistols, Ramones, U2, Clash, bandas que freq�entam seu inconsciente enquanto comp�em e tocam.

Quem exige virtuosismo dos dois erra no palpite porque eles nunca se viram como virtuosi, mas, sim, integrantes de uma banda de rock preocupada com outros elementos. B�sicos, por sinal. Na mesma entrevista, os dois dizem que n�o t�m pressa de lan�ar o vasto material do Legi�o, tocando ao vivo, ensaiando, etc. Garantem que o pr�ximo disco s� vai sair mais ou menos daqui a dois anos, provavelmente no ano 2000. Restam tamb�m trabalhos-solo in�ditos do pr�prio Renato, que Dado e Bonf� n�o sabem quando e se v�o chegar ao mercado, e a �ntegra de uma das melhores atua��es da banda captadas pelo Ac�stico, da MTV. Parte desse concerto est� no disco-retrospectiva M�sica p/ Acampamentos, lan�ado em 1992.

A primeira vez que ouvi falar no Legi�o Urbana, que ainda n�o se chamava assim, foi no bar Adrenalina, Asa Norte, Bras�lia. Fim dos anos 70. O bar foi fechado logo depois de inaugurado porque a pol�cia achou que adrenalina era uma droga superpotente e, ignor�ncia � parte, o Legi�o acabou mostrando que, de fato, a adrenalina o �. Com paredes e ilumina��o vermelhas, reunia apreciadores de rock de vanguarda, de prefer�ncia distorcido, visceral, ca�tico. Sem virtuosismo. E quem quisesse esticar a aventura podia dobrar � direita e seguir em frente pela Asa Norte para encarar Planaltina e Tabatinga, onde mais tarde viveu Jo�o de Santo Cristo, personagem da Legi�o no cl�ssico Faroeste Caboclo.

N�o � preciso conhecer Bras�lia para entender a genialidade de Renato Russo, indiscutivelmente o mais potente e possesso letrista/poeta/cronista do rock brasileiro. Mas, para entender o som do Legi�o, mergulhar em Bras�lia � fundamental. Impunidade, corrup��o, a��o de pistoleiros, aridez cultural, mis�ria, hipocrisia misturadas � viagem arquitet�nica bela e honesta de Oscar Niemeyer, n�o poderiam produzir outra coisa sen�o guitarras distorcidas, bateria seca, ora f�nebre, ora marcial, ora hist�rica, ora dan�ante e pop.

O som do Legi�o Urbana ancorou-se nas escancaradas contradi��es de Bras�lia do in�cio ao fim. No Distrito Federal, a banda nasceu e viveu o seu maior pesadelo, a pancadaria generalizada no Est�dio Man� Garrincha durante um show nos anos 80, quando 50 mil jovens f�s se comprimiam e passavam por uma catarse diante de can��es que t�m sabor de sa�da de emerg�ncia existencial.

Por causa desse epis�dio, em que v�rias pessoas ficaram feridas, o Legi�o se afastou das grandes multid�es e, imediatamente, foi tachado de apocal�ptico. Voltou a tocar no J�quei Clube do Rio, onde Renato Russo entrou no palco com uma bra�ada de flores e teve de mediar, a seu modo, uma batalha de areia nas primeiras filas. Tudo isso est� gravado em 24 canais, at� mesmo em v�deo produzido pela Rede Manchete. Foi o �ltimo grande show. Em 1989, Renato soube de sua doen�a e o Legi�o passou a espa�ar mais suas apresenta��es dirigidas a p�blicos menores.

O chamado rock aut�ntico est� diretamente associado � pancadaria. O Legi�o foi apenas um de v�rios exemplos not�rios. Nestes anos 90, um show dos Ramones, no Canec�o, no Rio, acabou em pugilato generalizado. O filme The Songs Remains the Same, que documenta um concerto do Led Zeppelin no Madison Square Garden, em Nova York, em meados dos anos 70, provocou quebra-quebra no Rio. Na metade do show, o pau comeu no extinto Cinema 1 em Copacabana, um �cone do "cinema-cabe�a". Sess�o interrompida e Led Zeppelin fora de cartaz.

O Cine Art UFF, em Niter�i, tamb�m meca de intelectuais, quase foi para o espa�o antes de o Zeppelin chegar a 30 minutos de show. Fato id�ntico ocorreu em outras cidades e tamb�m em Bras�lia, � l�gico. Conclus�o: o filme foi recolhido.

Quem assistiu a outro cl�ssico, Gimme Shelter, que registra um concerto dos Rolling Stones em Altamont viu um negro sendo esfaqueado por um hell angel, tudo em c�mera lenta. The Who, nos anos 60, travava verdadeiras batalhas com a plat�ia e, numa delas, o baterista Keith Moon atirou o bumbo na fila da frente. Em Cincinatti, Ohio, 11 pessoas morreram espremidas na porta de um est�dio porque acharam que o Who j� tinha come�ado o show, mas a banda apenas passava o som.

Briga-se em shows de rock desde 1954 quando esse estranho filho do blues nasceu. Por qu�? Porque rock descomprime, desopila. E o Legi�o Urbana foi um dos maiores torpedos libert�rios da m�sica brasileira.

Produzido b�sica e competentemente por Dado Villa-Lobos, Uma Outra Esta��o conseguiu ser um disco conceitual, apesar da aus�ncia f�sica de Renato Russo. Na segunda capa do CD a banda pede: "Ou�a este disco da primeira � �ltima faixa. Esta � a hist�ria das nossas vidas." De fato, quem n�o ouve o disco inteiro, acompanhando suas evolu��es t�cnicas e principalmente emocionais, vai entender pouco ou nada. Mais do que ouvir � preciso entender que Uma Outra Esta��o � uma hist�rica l�pide que est� sendo colocada sobre a tumba de aut�nticos rebeldes. E, como bem diz Lob�o, "os rebeldes ou est�o morrendo ou se tornam contrariados".

 

 

 

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