Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
Bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet
bullet

eXTReMe Tracker
 

NUNCA MAIS OS FILHOS DA REVOLU��O

Integrantes da Legi�o falam, com exclusividade ao "Zap!", do novo CD e do relacionamento entre eles.

(O Estado de S�o Paulo - 26/09/1996)

(Por Ricardo Alexandre)

Depois de tr�s anos afastados dos est�dios, dos palcos, do showbiz e, praticamente, afastados uns dos outros, a Legi�o Urbana resolveu sair da toca com seu t�o aguardado novo CD. A Tempestade (Ou o Livro dos Dias) � um ponto crucial para os tr�s garotos brasilienses que amavam PIL e Jesus & Mary Chain. N�o � toda hora que muitos f�s t�m chance de ouvir um novo disco da banda. Mas a aten��o aumenta j� que, desde O Descobrimento do Brasil, muita �gua rolou na m�sica pop nacional e, fora a M�e Din�, ningu�m ousaria prever o futuro da banda. E olha que o �ltimo �lbum nem foi t�o bem assim, apesar de ser considerado por Renato Russo como um "�timo disco de festas", parando nas 350 mil c�pias. Mas , a julgar pela repercuss�o da primeira faixa de trabalho, A Via L�ctea, nas r�dios, o sucesso do grupo continua intacto. E, em termos de vendas tamb�m: A Tempestade chegou �s lojas nesta segunda-feira, com 340 mil c�pias j� devidamente reservadas.

O novo trabalho abre um leque de timbres e climas at� ent�o in�ditos no trabalho do trio. E boa parte dos m�ritos por isso � da produ��o de Dado Villa-Lobos, que cuidou para que cada faixa encerrasse um conceito �nico, por meio das v�lvulas, viol�es, violas, pedais e amplifica��es diversas. As letras tamb�m trafegam do depressivo semi-tr�gico ("N�o h� ningu�m para ajudar a explicar porque � que o mundo � este desastre que a� est�..." Ou "... N�o quero mais ser quem sou..."), passam pela exalta��o da vida caseira da Leila e vai aos pirilampos de festividade em Soul Parsifal - que, musicalmente, lembra algo como Rita Pavone tocando nothern soul. H�, tamb�m, um retorno cl�ssico aos anos 80, Dezesseis, um tr�s-acordes sobre um adolescente que explodiu seu carro, com as tradicionais refer�ncias � Bras�lia, o eterno amor/ desaven�a do trio. � o disco mais variado da banda e com uma por��o de hits certeiros, perfeito para recolocar o grupo na briga do rock nacional, ainda mais por "se destacar tanto das coisas que tocam normalmente no r�dio", como bem definiu Dado.

A sugest�o de que fiz�ssemos a entrevista em separado foi do pr�prio guitarrista, para que Renato Russo n�o "monopolizasse" a conversa com seus contos e recorda��es. Assim, com exclusividade nacional, pincelamos do trio muitas divaga��es art�sticas, exerc�cios de futurologia e, claro, observa��es sobre o novo disco.

PS.: N�o, n�o perguntamos se Renato est� com AIDS.

RENATO RUSSO

Qual � a diferen�a de A Tempestade e os �ltimos discos?

� que A Tempestade ficou mais pop. A gente gravou 25 can��es, mas da� nos tocamos da inviabilidade de, num �ltimo trabalho de um contrato, lan�ar um �lbum-duplo. Pensamos em fazer um disco dividido em dois- exonera mais, mas disco-duplo ningu�m compra, porque � muito caro. A� a gente tirou umas m�sicas, para que n�o s� o pessoal mais sofisticadinho comprasse o disco novo da banda.

Voc� acha que o novo disco deve repetir os feitos dos trabalhos dos anos 80 da Legi�o, em termos de n�meros de hits e de vendagem mastod�ntica?

Eu n�o tenho nem id�ia. Eu n�o sabia, por exemplo, que meu CD em italiano poderia chegar � platina-duplo- j� est� chegando a 450 mil c�pias. Nunca imaginei! Ao passo que o Stonewall (primeiro solo de Renato), eu pensei que fosse ter um desempenho melhor, mas houve problemas de distribui��o, ningu�m encontrava o CD nas lojas e n�o sei o qu�. A� formamos uma equipe para trabalhar junto � gravadora. A Odeon trabalha muito como independente inglesa, voc� v� pelo cast - Paralamas, Marina, a gente, Marisa Monte. Todo mundo com liberdade para fazer o que quer, sabe? � outra coisa...

Voc�s parecem se preocupar bastante com essa coisa de atitude. N�o fazem shows, fotos, raramente d�o entrevistas. H� uma preocupa��o com a postura da banda, uma imagem a ser preservada?

Claro que n�o, � que n�s levamos nossa displic�ncia muito a s�rio! Ent�o, n�o me pe�a para fazer clipe que eu n�o vou fazer, me deixa quieto aqui em casa.

Voc� n�o gosta nem de fazer clipe?

Eu n�o gosto de nada! Eu gosto � de compor, entrar no est�dio, encontrar os rapazes, trabalhar a obra, pensar na capa e pronto, coloca o disco na loja. A gente � artista de grava��o. O Lou Reed falou isso: "I'm a recording artist", n�o � um poeta. Ele � um artista que grava e essa � a vis�o que eu tenho da Legi�o.

A Legi�o sempre se caracterizou por ser meio que uma turma fechada - desta vez nem produtor voc�s chamaram- e os discos acabaram sempre com o mesmo padr�o sonoro. N�o d� vontade de entrar no est�dio para fazer seu Pet Sounds (cl�ssico da psicodelia e da engenharia sonora, lan�ado pelos Beach Boys em 67), subverter tudo?

Todo pr�ximo disco da Legi�o vai ser o nosso Pet Sounds, mas acaba n�o sendo. Acho que cada trabalho de todo o artista � para ser o Pet Sounds, mas n�o �, entende? E tamb�m, a gente j� tem as nossas formulinhas- o Bonf� � bem implicante em rela��o a isso. Voc� assiste aquele Ac�stico da MTV e parece que ele est� com pris�o de ventre, detestando estar l�. Isso ningu�m sabe, tipo: "Sou baterista, n�o percussionista! N�o vou ficar l� tocando aquele sininho rid�culo!"

Voc� ainda se mant�m informado sobre a cena de Bras�lia? Voc�s foram a cria mais emblem�tica do circuito de casas noturnas, selos, etc...

N�o, tudo isso aconteceu depois que n�s j� est�vamos no Rio. Depois da Legi�o, veio o t�dio novamente e a� apareceram milh�es de bandas, das quais a minha predileta � a Low Dream. N�o sei como eles conseguem aquelas guitarras, meio Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine, porque a gente tenta, tenta... Tem o problema deles cantarem em ingl�s, mas as suas letras s�o t�o sint�ticas que eles poderiam cantar em portugu�s.

Voc� j� tem algum pr�ximo projeto solo em maquina��o?

N�o. Eu j� estou exausto de ficar falando deste disco, n�o sei o que vai acontecer. Provavelmente, eu vou sair do Pa�s, vou embora para S�o Francisco, ficar l� uns dois meses e de l� vou para a Nova Zel�ndia. Porque, este ano, no Brasil, primeiro o cristal se quebrou (refere-se � pol�mica financeira envolvendo o Paulinho da Viola na �ltima passagem do ano carioca) e a magia se acabou. Logo depois teve o acidente com os Mamonas. Eu estava muito ligado ao Jo�o (Augusto, diretor art�stico da EMI), a gente estava trabalhando no nosso projeto e ele ficou arrasado, todo mundo ficou arrasado e eu fiquei muito surpreso que ningu�m tenha notado a import�ncia deles como evento cultural brasileiro. � a mesma coisa que morrer algum dos Secos & Molhados e ningu�m falar nada, s� falar da multid�o no enterro. Foi horr�vel, de qualquer forma. A� depois vieram as enchentes, a� a chacina no Par�. E este disco novo, dizem, est� t�o melanc�lico, t�o triste, t�o n�o-sei-o-qu�, que est� perfeito para todos esses problemas que a gente est� tendo de enfrentar.

DADO VILLA-LOBOS

N�o enche o saco ser "o cara legal" da Legi�o, meio que o porta voz do grupo, a pessoa que todo mundo procura falar, ao contr�rio do come�o, quando essa fun��o era mais dividida?

Bem, � a primeira vez que isso acontece, porque o Bonf� n�o � a pessoa mais indicada para falar, por sua pr�pria personalidade, e o Renato n�o est� legal, prefere n�o falar. Mas, na verdade, eu nunca respondo pela banda, sempre procuro colocar os meus pontos de vista e opini�es particulares.

Porque o disco acabou ficando com dois nomes?

Porque eu gostava mais de O Livro dos Dias e o Renato gostava mais de A Tempestade. Eu achava mais legal o primeiro nome por causa da m�sica. Eu n�o desvendei ainda seu significado - o Renato estava me dizendo que � um lance gay -, mas acho que O Livro dos Dias tem a ver com calend�rio, com a Hist�ria, com os dias tempestuosos de hoje.

Voc�, como bom f� de Oasis, n�o sente falta de trabalhar em formato mais pop, com refr�ezinhos e tal?

N�o, pelo contr�rio, estou cada vez querendo me distanciar mais disso. Mais do que Oasis, prefiro me aproximar de uma coisa mais Beck, que tamb�m n�o tem um formato pop. Mesmo a Legi�o nunca teve refr�es f�ceis - com exce��o de Ser� ou Pais e FiIhos, talvez. O problema � que tem muita banda de rock querendo soar como pop, o que eu considero um desperd�cio. A Legi�o continua sendo uma banda de rock nesse sentido - e nem � s� a quest�o da m�sica, que continua um h�brido de folk, pop e rock - mas da atitude, de postura mesmo. N�o tem refr�ozinho.

Rolou um boato de que voc�s tr�s nem chegaram a se encontrar muito no est�dio, que cada um gravou sua parte sozinho...

O come�o das grava��es foi legal, tranq�ilo, como sempre foi. Agora, de fato, o que rolou foi que depois das grava��es das bases, com todo mundo tocando junto, eu fiquei sozinho gravando as guitarras e produzindo tudo. Normalmente, mesmo quando eu gravava as guitarras, a gente trocava id�ias, conversava sobre para onde as coisas deveriam ir.

Voc� e o Renato chegaram at� mesmo a brigar...

�, mas foi uma quest�o musical e est�tica e, de certa forma, descambou para o pessoal, porque o Renato �s vezes n�o sabe lidar com as pessoas. Mas depois ficou tudo bem, sen�o a banda teria acabado, o disco n�o teria nem sido terminado, a gente deixava l� para EMI ver o que faria. Sabe como �, banda � como casamento. Claro que a gente n�o iria acabar, por v�rias raz�es profissionais e tudo, mas sempre rola briga.

Esse disco � nitidamente mais maduro do que os anteriores. Voc� acha que os ouvintes de 30 anos gostam do Legi�o, que � um grupo que se celebrizou pela empatia com o p�blico adolescente?

Ah, com certeza, porque o cara que tem 30 anos tinha 18 quando n�s come�amos. E seria mesmo estranho se n�s n�o amadurec�ssemos, apesar de continuarmos falando as mesmas coisas de antes, s� que com uma outra abordagem, para um p�blico que, na verdade, vai dos 18 at� os 40 anos. O problema � que os adolescentes de hoje est�o muito esquisitos, s� escutam m�sica muito rala Neste sentido, a gente est� distante mesmo.

MARCELO BONF�

Como est� o relacionamento entre voc�s? Se voc�s n�o se encontram como rolam os ensaios?

A gente nunca foi uma banda de "m�sicos", nunca rolou muito ensaio, exceto na �poca de Bras�lia. Nas grava��es dos primeiros discos, o Renato - ele sempre foi meio maluco- chegava com o disco pronto na cabe�a e eu (em tom surpreso): "Ah, ainda bem que o disco est� pronto!" Por isso as m�sicas s�o t�o retas, eu inventava um negocinho e ele: "Ah, legal, repete a�." Mas agora, t� todo mundo adulto, o Renato parou de beber, foi maravilhoso. A gente mal se v�, mas a rela��o � muito melhor.

Houve alguma mudan�a no processo de composi��o?

N�o. Nosso processo de compor e gravar sempre foi meio que a cobra-mordendo-o-rabo. A gente tinha alguns esbo�os, coisas antigas que fizemos h� at� uns dois anos, sobre id�ias que um ou outro trazia. A� eu criava um ritmo, pegava um clique, "midiava" no teclados e gravava a m�sica como guia. Depois o Renato fazia a id�ia e desenvolvia uma linha mel�dica em cima. Eu gravei a bateria definitiva, tudo em uma semana e o Dado ficou l�, gravando as guitarras. Por mim e pelo Dado a gente ousaria mais. Eu dizia: "Vai l�, Dado, detona!" (risos). Mas o Renato � mais conservador, tem medo de sair muito fora dos padr�es e a gente sempre voltava atr�s.

Enquanto o Dado produz discos e comanda a Rock it! e o Renato grava seus disquinhos em italiano, como voc� ocupa seu tempo extra-legi�o?

Eu nunca trabalhei tanto na vida, mas eu trabalho mais para mim, para minha fam�lia - tenho uma fam�lia maravilhosa, fa�o tudo por ela. Eu desenho, eu pinto, nem que seja para rasgar tudo no final. Nesse tempo entre os discos, eu fiz uma casa. Nem gosto de falar sobre isso porque, no jornal, v�o pensar que eu contratei algu�m e s� assinei o che0que. Mas n�o, eu projetei, bolei as portas, agora eu sei at� fazer c�lculo estrutural. Minha casa � minha obra de arte, desde o prego at� a horta no fundo - adoro terra e flores.

 

Pol�tica de Privacidade

Skooter 1998 - 2008