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"ESTAMOS VIVOS,
MUITO VIVOS"
Renato Russo, Dado
Villa-Lobos e Marcelo Bonf� querem provar, com o disco V, que o rock n�o
acabou. Algu�m discorda?
Por Lucil�a Cordovil - Revista Fama - 1992
Em 1968, o branco era moda. Beatles, Rolling Stones e at� Caetano Veloso-um
ano depois-lan�aram seus �lbuns brancos.Os rapazes de Liverpool estouraram
as paradas com Back in The USSR, Revolution...Os stones arrepiaram com
Simpathy For The Devil e Street Fishing Man. Caetano detonou com Os Argonautas
e Chuvas De Ver�o. Vinte e tr�s anos depois, a Legi�o lan�a seu �lbum
"quase" branco, o V, bem no momento em que todos sentenciam a morte
do rock. E a primeira m�sica do novo disco a invadir as paradas tem o
sugestivo nome de O Teatro Dos Vampiros. Hummmmm!
Nada a estranhar em se tratando de Renato Russo (vocal, viol�es e teclados),
Dado Villa-Lobos (guitarra e viol�es) e Marcelo Bonf� (bateria , percuss�o).
Irrever�ncia � com eles-desde o tempo em que Renato & Cia agitavam a
cena punk de Bras�lia com o grupo Aborto El�trico. Deixaram o couro preto e
os cabelos espetados de lado, mas a metralhadora continua a cuspir chumbo
grosso, temperado com humor e ironia. Um exemplo? Quem esquece Eduardo e M�nica,
Gera��o Coca-Cola e Faroeste Caboclo?
M�sica � parte, eles tamb�m d�o uma banana � tradi��o na vida pessoal.
O l�der Renato Russo fez todos os moralistas se abanarem em conjunto quando
declarou, em 1990, que gostava de meninas e...meninos! Pai solteir�ssimo do
garoto Giuliano, de 3 anos, confessa total incompet�ncia para cuidar sozinho
do filho-os pais do cantor seguram a barra. Renato, por�m, tem l� seu lado
"dono de casa". Jura que faz p�es e panquecas como ningu�m.
Dado, casado com Fernanda, divide os mimos entre os filhotes Nicolau, 4 anos,
e Miranda, 2. Suas outras paix�es: andar a cavalo e jogar futebol. J�
Marcelo adora p�r a m�o na massa e se diz excelente cozinheiro. Sorte da
mulher, Simone, e do filh�o Jo�o Pedro, de 4 aninhos..
Mas com V chegando �s lojas, o que eles querem � falar de trabalho. Ent�o,
vamos l�...
Voc�s t�m oito
anos de estrada, e isso em rock 'n' roll s�o oitocentos...Qual o segredo da
sobreviv�ncia?
Renato Russo(com
ar ir�nico)-Que sobreviv�ncia? N�s somos dinossauros. O rock acabou. Voc�
ainda n�o percebeu que o rock acabou?
N�o seria s�
uma crise?
Renato-
Olha, de todas as express�es musicais, o rock � o que mais depende de
tecnologia, de dinheiro. Hoje em dia o rock tem uma certa atitude, ele n�o �
mais s� m�sica. E isso envolve muita, mas muita grana. E num pa�s que est�
mal, como o nosso,� claro que quem n�o tem estrutura dan�a. Muitos
jornalistas vivem falando que o rock � uma ra�a em extin��o. Eu gostaria
de saber o porqu�. Queiram ou n�o, estamos vivos, muito vivos!
E qual o lugar
da Legi�o Urbana na m�sica brasileira?
Renato- N�o
sei, afinal n�o dizem que somos uma ra�a em extin��o? At� revistas de
rock andam assinando embaixo. Mas, se isso realmente acontecer, todas essas
pessoas v�o perder o emprego. Ou voc� acha que as publica��es
roqueiras v�o entrevistar Leandro e Leonardo? Eu duvido. Estou realmente
desgostoso. A impress�o que tenho � que as pessoas estendem a m�o s� para
empurrar depois. N�o � poss�vel que tudo o que foi feito at� agora tenha
acabado. e quem � que decide isso?
Mas muitas
bandas foram para o espa�o. Al�m do mais, n�o h� renova��o...
Renato-
Ligue a televis�o...Tarc�sio Meira ainda � gal�! (risos). E o rock �,
talvez, o �nico meio que minha gera��o tem para se expressar. O jovem n�o
l� mais, n�o estuda mais, a gente n�o tem abertura na tev�...E tamb�m
nunca dissemos que o rock � a coisa mais importante do mundo, que somos
superespetaculares. Eu n�o me acho poeta e sempre afirmei que n�o sab�amos
tocar.
Mesmo assim, s�o
considerados do primeiro escal�o do rock nacional...
Renato- E da�?
Isso n�o significa mais nada. De qualquer forma, existem coisas mais
importantes do que rock. E eu n�o estou aqui para ficar reclamando do
meu trabalho, embora seja muito importante para mim. O que interessa � que
fazemos o que gostamos, as pessoas compram o disco e v�o ao show se sentirem
vontade.
Dado- No
fundo, acho que nada mais tem significado no Brasil, e isso � horr�vel!
E as cr�ticas?
Marcelo- Se
falar mal damos porrada. T�m que gostar(risos)
Dado- �
sempre desagrad�vel ver o seu trabalho esmigalhado pelos outros, mas...
Renato- Em
geral, respeitam a gente pra caramba. Nunca pudemos reclamar da cr�tica, n�o.
O que me deixa chateado, repito mais uma vez, � o fato de virem com essa:
"As letras s�o muito inteligentes, mas voc�s s�o uma ra�a em extin��o".
E nesse disco,
continuam em clima religioso?
Renato-
Nunca foi exatamente religioso, n�o tem esse lance de clima. O que quisemos
colocar em As Quatro Esta��es � que a sa�da, para n�s, era via
espiritual. Por isso citei figuras m�sticas. Mas, embora cada um tenha sua
cren�a, o importante � o que trazemos dentro de n�s. S� que o texto foi
tachado de religioso, porque eu falava muito de santo.
Renato, ent�o
as pessoas n�o fazem uma leitura correta das suas letras?
Renato- N�o,
as pessoas realmente n�o analisam as letras. Mas eu gosto de acreditar que as
fa�o de uma tal maneira que possam ser interpretadas de v�rias formas.
� o N�mero V.
Vai vender tanto quanto As Quatro Esta��es(800 mil c�pias)?
Marcelo-
Acho que n�o. O N�mero V n�o � um disco t�o comercia. N�o � muito pop.
Dado- Sempre
gosto de surpresas. Prefiro acreditar que o disco n�o vai vender e me
surpreender depois. Mais o V � bem mais dif�cil de ser assimilado.
Continuam
preocupados com viol�ncia e injusti�as sociais?
Marcelo-
Claro, afinal s� existe injusti�a social. N�o vejo justi�a em parte
alguma.
Renato- Isso me
preocupa porque tenho fam�lia, amigos...�s vezes nem me preocupo tanto
comigo, mas h� pessoas que gosto e n�o desejo v�-las sofrer.
Qual a receita
do sucesso? Seguir as tend�ncias?
Renato-
Imposs�vel. Se eu soubesse fazer isso, n�o tinha nenhuma preocupa��o.
Marcelo- N�s
s� fazemos aquilo que sentimos.
Dado- N�o
existe planejamento. Temos um estilo determinado e trabalhamos dentro de
nossas limita��es.
Mas o trabalho
� mais te�rico ou mais intuitivo?
Renato-
Intuitivo, porque n�o h� conhecimento te�rico. Eu, por exemplo, n�o sei
ler nem escrever m�sica. Nem de cifras entendo. Quem saca essas coisas � o
Dado. Tamb�m, n�o precisa n�o. Componho m�sica at� com duas notas...
Acreditam nas
paradas de sucesso? Elas s�o realmente honestas?
Renato- Bem,
nossa gravadora, a EMI-Odeom, n�o tem dinheiro para pagar jab� (presentear
ou "pagar" para executar a m�sica no r�dio). E jab� nenhum vai
fazer com que as pessoas decorem as nossas letras e cantem conosco.
Dado- S�o
fi�is, honestas sim.
Quem determina
um sucesso musical. O p�blico ou a r�dio.
Dado- Quem
faz a m�sica...
Marcelo-
Quem � bom hoje em dia faz sucesso.
O que mudariam
na banda?
Renato- Eu
queria saber tocar bem.
Marcelo- Eu
tamb�m queria exatamente isso: saber tocar mais.
Como � a rela��o
de voc�s? Rola briga, diverg�ncias?
Marcelo-
Quando a gente se encontra, uma vez por ano, tem briga sim...
Renato-
Falando s�rio, antes brig�vamos mais. Mas n�o somos os Beatles do Help, em
que todo mundo fazia tudo junto...
Dado- Temos
vidas completamente independentes.
E a Legi�o
explora a sensualidade durante os shows?
Marcelo- N�o,
eu exploro muito meu lado musical. E s�.
Dado- S� de
repente, de vez em quando.
Renato- Eu
tento, n�? Adoro! mas tenho o sex-appeal de uma velhinha de bob no cabelo e
penhoar.
Mesmo assim, voc�
� considerado o rei do rock nacional!
Renato- N�o
gosto de acreditar nisso n�o. � aquela tal hist�ria...As pessoas estendem a
m�o para depois empurrar. N�o esque�o isso jamais. Tamb�m n�o acordo pela
manh�, me olho no espelho e digo: bom dia, rei do rock!
Mat�ria enviada por Lu�s
Fernando Belmonte Wisniewski (Santo �ngelo - RS)
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