Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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RENATO RUSSO EXORCIZA PAIX�O EM DISCO SOLO (Folha de S�o Paulo, 24/09/1994) "The Stonewall Project" re�ne vers�es de Steven Sondhein, Madonna e Tanita Tikaram, entre outros. Renato Russo est� lan�ando um disco "tr�s-em-um". "The Stonewall Project" comemora os 25 anos de Stonewall, vai ter 50% dos royalties revertidos para a A��o da Cidadania contra a Mis�ria e a Fome coordenada pelo soci�logo Herbert de Souza e, por fim, traz uma lista de diversas ONGs, "para ajudar ou pedir ajuda". Em entrevista � Folha, Renato fala do projeto do disco, do repert�rio "brega-oper�stico-sentimental" e conta da hist�ria da paix�o que inspirou "The Stonewall Project". O PROJETO O projeto nasceu numa reuni�o na campanha do Betinho na casa do Marco Nanini. Pensamos em fazer um recital com as m�sicas que eu canto sempre, como algumas can��es do Gershwin, mas o recital acabou nunca dando certo, sempre tinha algu�m viajando. Mas a id�ia foi ficando legal. Na �poca, eu estava assustado com o ressurgimento do fascismo. Eu havia lido um reportagem sobre os carecas num jornal do Rio que me assustou muito. Ela foi concebida como uma reportagem de moda e os carecas estavam l� dizendo: "Vamos bater em todo mundo, vamos matar todos os metaleiros". Eu pensei: vai come�ar tudo de novo. Eu tamb�m queria usar o disco pra me expressar emocionalmente acerca da minha orienta��o afetiva. Depois surgiu a id�ia de usar tamb�m o disco para divulgar informa��es sobre ONG�s que trabalham com os direitos da crian�a, mulher e das minorias sexuais propriamente ditas. Tem tanta gente fazendo um trabalho legal e t�o pouca gente sabe. No Rio, por exemplo, n�o tem cat�logo telef�nico desde 87. Tem um livro meio esquisito, no qual est� escrito, bem grande: este livro n�o � um cat�logo telef�nico. Eu fiz esse disco para mostrar que a gente tem dignidade, que tem pessoas legais trabalhando pelas diferen�as. O fascismo � muito perigoso, daqui a pouco se voc� n�o for macho, adulto e branco, voc� est� perdido. INTOLER�NCIA Em momentos de caos, de desistrutura��o da sociedade, existe sempre o perigo do fascismo. Dado o medo que as pessoas de uma crise maior, elas se protegem na tradi��o, fam�lia e propriedade. Eu acho que n�o � uma coincid�ncia que existam tantos programas religiosos na TV hoje em dia. Porque a� � Jesus quem vai te salvar ou o seu sonho de consumo vai te salvar... O planeta est� um caos. BRENCH Eu estava lendo Brench, depois de anos - gente, aquilo l� parece que foi um menino da UNB que escreveu, mas batata, est� tudo l�. Tem uma frase que diz: "Quando os governos come�am a dizer que n�o vai ter guerra � porque a guerra j� est� acontecendo". PAIX�O "The Stonewall Project" � um disco sobre paix�o. Eu precisava exorcizar aquela coisa de voc� se anular por uma pessoa. Eu escolhi can��es que tivessem a ver com a hist�ria da grande paix�o da minha vida. Eu vivi um rela��o muito intensa, muito dif�cil com um americano. Ele vivia no gueto de S�o Francisco - era gay de carteirinha. Ele veio para o Brasil - ele era lindo, louro - e as meninas deram em cima. A� veio aquela coisa de macho, porque todo homossexual masculino � macho, n�o adianta. Ele era dependente qu�mico tamb�m, a gente viveu uma rela��o Sid & Sid. Ele, de speed, e eu, de �lcool e tranq�ilizantes. "Vento no Litoral" fala justamente disso: "Lembra que o plano era ficarmos bem", era o nosso plano. S� que n�o deu certo. MODELOS Eu n�o acredito mais em amor rom�ntico. Dada a minha orienta��o sexual, n�o existe modelos. N�o existe "E o Vento Levou" para mim. Eu n�o sei como as pessoas se comportam. Eu sempre tive um esp�rito sens�vel e sempre tive que me comportar de uma maneira. De repente, aquilo estava me fazendo mal. Minha depend�ncia de drogas tinha a ver com isso. Eu pensava: Ser� que vou ter que ficar uma tia velha, ser� que eu vou ter que ficar sozinho? Ser� que tenho que desmunhecar, ser� que sou uma bicha louca? Eu j� namorei mulheres, tenho um filho. Mulher � uma coisa fabulosa, mas por mulher eu sinto um respeito demasiado. Com mulher parece sempre que eu estou transando com uma amiga. BREGA Rock�n�roll mesmo era Camisa de V�nus, o Legi�o e o RPM. O RPM foi uma banda muito importante, independente do que o Paulo Ricardo esteja fazendo hoje. Eles abriram o caminho para todo o mundo. O Camisa de V�nus tinha aquela coisa beira de estrada, o RPM era brega sem querer e a gente, era e � de prop�sito. Quando eu estou me sentindo bem, quando estou pleno espiritualmente, eu fico completamente retardado e idiota. "Pocilga" � importante, mas "E.T." tamb�m � importante. MERCADO EXTERNO O disco est� um pouco latino demais para o mercado exterior. N�o existe muito esse tipo de produto l� fora, como um disco de Leonard Cohen gay. Sempre que eles fazem alguma coisa desse tipo, � como a K.D.Lang, que faz uma coisa mais para cima. O repert�rio � interessante para o Brasil, mas para eles � como um alem�o cantando "Carinhoso". S� faltava eu ter gravado "Strangers in the Night" e "Feelings". Eu gostaria que o disco fosse para alguns pa�ses europeus - Espanha, It�lia, Fran�a, Inglaterra, Jap�o - E EUA, claro, mas os americanos s�o muito homof�bicos. L� � muito complicado, tanto � que tem o Mr. Stipe, o Mr. Rollins, que s�o todos... Mas n�o podem abrir a boca, eles n�o s�o como os ingleses... A� fica aquela coisa, o Stipe protege as baleias, protege todo mundo. KURT COBAIN � dif�cil explicar como eu achava que o Kurt Cobain era bom, aquelas letras... Mas ele foi embora. Se voc� realmente vai fundo, a coisa acaba. ROCK�N�ROLL N�o � poss�vel fazer rock�n�roll com esp�rito adulto e maduro. Esse � o problema. O "Descobrimento do Brasil" me causou muita estranheza. Ele n�o � um disco adolescente, mas porque a gente � uma banda de rock�n�roll, o disco � extremamente adolescente. A n�o ser que voc� fa�a como o Lou Reed em "Magic and Loss" ou no "New York"... Eu gostei muito do �ltimo disco do Henry Collins, mas aquilo � um homem de 34 anos falando o que um garoto de 16 pode muito bem falar. Existe a sa�da, que � o Pop. A gente pode fazer o "Rumours" do Fleetwood Mac, eu posso fazer m�sica popular. O rock � muito adolescente, � sobre as d�vidas e a sexualidade adolescentes e sobre autopiedade - como eu sofro e ningu�m me entende. CANTOR COMENTA AS CAN�OES QUE SELECIONOU A seguir, Renato Russo fala sobre algumas can��es selecionadas do "The Stonewall Celebration Concert". Segundo Russo muitos artistas ficaram de fora: "Eu queria gravar Graham Parsons, Joni Mitchell, Peter Hammil, Brian Wilson... Leonard Cohen eu cheguei at� a gravar 'Hey There is no Way to Say Goodbye', � lindo aquilo. Mas n�o ficou bom. "Send in the Clowns", de Stephen Sonfhein - "Essa m�sica � a coisa mais brega que existe. � uma can��o t�pica daqueles bares gays, e tem aqueles atores desempregados, um piano e eles cantam 'Send in the Clowns', 'The Man I Love'. E depois entra aquela marchinha tipo Fellini, mas � uma marcha militar ('Wenn die SS und die SA aufmrschiert', quando a SS e a SA marcham), que remete para o ressurgimento do fascismo. "The Heart of Matter", de Mike Cambell, Don Henley e J.D. Souther - "� um rock balada do Don Henley, com aquela batida Hollywood Rock, mas aquela letra diz o que sinto." "I Get Along Without You Very Well", de Hoagy Cramichael - "Essa fala daquela sensa��o dos meses que se transformam em anos e voc� acorda de manh� todo dia e respira fundo e diz tudo bem, eu estou indo muito bem sem voc�, eu estou bem..." "Clothes od Sand", de Nick Drake - "Eu descobri Nick Drake h� pouco tempo, uns dois anos. � super dif�cil achar os discos. Ele � um anjo. Ele tem uma sensibilidade extrema. D� vontade de falar "D� Prozac pro menino", mas sem a coisa modorrenta. Essa m�sica tem uma liga��o com o rock progressivo, que eu tamb�m tenho. Parece aquelas baladinhas do Genesis. Gravei tamb�m um pouco por vaidade, para n�o assustar: o povo pega um disco que tem Billy Joe, Don Henley. 'Clothes of Sand' foi dif�cil, acho que levei uns tr�s dias para acertar." Texto enviado por: Fabiano Moraes - Legi�o Urbana Web F� Clube |
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