Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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C�pia e honestidade fizeram o Legi�o (Folha de S�o Paulo - 14/10/1996) (Por �lvaro Pereira J�nior) �
�lvaro Pereira J�nior, 33, �
editor-chefe do programa "Fant�stico" (TV Globo) Na minha vida
toda, s� comprei um disco de rock brasileiro: o primeiro do Legi�o Urbana (eu
tinha lido uma cr�tica favor�vel). Na �poca,
gostei, porque praticamente tudo era copiado dos Smiths, exceto o jeito de dan�ar
do Renato Russo, imita��o do Ian Curtis, do Joy Division. Smiths e Joy
Division: naquele tempo, uma bela combina��o. Depois, fui
perdendo completamente o interesse, � medida em que o Legi�o Urbana passou a
ser tratado, como sempre acontece no Brasil, de um modo muito mais s�rio do que
um artista popular merece. Viraram
"fen�meno", "far�is" de uma gera��o, autores de can��es
"profundas". N�o duvido que algum livro did�tico de segundo grau
traga letras do Legi�o Urbana para serem "analisadas". Morto aos 36
anos em circunst�ncias ainda misteriosas (escrevo na sexta-feira � tarde),
Renato Russo vai certamente se transformar no Jim Morrison brasileiro. Como se
sabe, o americano Morrison, l�der dos Doors, morreu em Paris em 1971 de maneira
igualmente esquisita, e desde ent�o � objeto de culto mundial. Como Russo,
Morrison tinha aspira��es po�ticas, mas com f�lego e talento bem menores que
a vontade. Da chamada
primeira gera��o do rock brasileiro nos anos 80, o Legi�o Urbana divide com o
Ira o posto de banda, digamos, "mais na dela". Quer dizer,
modas vieram e foram embora, mas o som do Legi�o continua o mesmo at� hoje,
ainda derivado dos Smiths: ingenuamente l�rico, introspectivo, tocado com
economia. Nesse mesmo per�odo,
os contempor�neos Tit�s, para ficar apenas em um exemplo, j� foram
bichos-grilos, punks, experimentais, grunges, voltaram a ser bichos-grilos,
fizeram discos-solo de MPB etc. etc. � tamb�m elogi�vel
que o Legi�o tenha se mantido imune, ao menos aparentemente, ao poder cooptador
do establishment caet�nico da MPB, sempre �vido a trazer para debaixo de suas
asas qualquer um que venda mais de tr�s discos no pa�s. Nem de longe a
morte de Renato Russo o inscreve na galeria de g�nios autodestrutivos do rock
com Kurt Cobain (Nirvana), Johnny Thunder (New York Dolls) ou John
Honeyman-Scolt (Pretenders). O Legi�o n�o
criou um estilo, n�o representou um ponto de inflex�o relevante nem mesmo na
pobre historiografia do rock nacional. Mas Renato Russo
e o Legi�o Urbana contaram uma hist�ria de honestidade musical e, a seu modo,
de paix�o roqueira. Neste deserto de
homens e id�ias em que vivemos, talvez j� seja o bastante. |
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Skooter 1998 - 2008 |
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