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Bras�lia, Aids e lipo marcam gera��o at�pica

(Folha de S�o Paulo -  15/10/1996)

(Por Marilene Felinto)

 

De ningu�m que tenha nascido em Bras�lia se espera que morra ainda. Bras�lia � t�o nova. Mesmo que o compositor Renato Russo n�o tenha nascido em Bras�lia, � como se tivesse. Foi criado l�, sua m�sica e sua banda nasceram l�. Sua morte � como se fosse a primeira noticiada de algu�m nascido em Bras�lia.

� como se morte n�o combinasse com a modernidade de Bras�lia. Mas como Russo morreu de Aids, a epidemia contempor�nea, ent�o uma coisa se engancha na outra, ganha ares de estranha trag�dia bem brasileira e universal.

Universal porque, como Russo era gay e m�sico, de novo se est� diante do estigma. Como disse um estudioso americano, ''se algu�m fosse descrever essa epidemia apenas a partir do mundo das artes, teria de concluir que somente (...) homens gays brancos s�o v�timas da Aids'' (Richard Goldstein).

Estranha trag�dia brasileira porque tem Bras�lia no meio cidade s� urbana, centro alien�gena onde parece que n�o vive sen�o (e ainda) uma legi�o de estrangeiros, dos que foram constru�-la at� os que l� est�o por for�a de trabalho.

E estranha trag�dia porque Renato Russo j� era um estranho no mundo da m�sica pop um narrador talentoso e quieto, que estava mais para escritor do que para letrista de can��es. Al�m disso, n�o tinha exatamente o ''sex appeal'' dos �dolos da cultura de massa, nem vivia fazendo discursos de estrela-profeta na televis�o.

Mas a morte de Russo � tamb�m como qualquer outra por Aids: sentida como uma trai��o a quem fica, aos f�s que nem sabiam de sua doen�a. Em muitos casos, morte por Aids ainda tem aura de suic�dio, sem as tintas do romantismo da tuberculose, por exemplo, ''a mais est�tica das epidemias'', segundo Goldstein.

Alguns amigos meus estar�o perplexos. Russo foi o primeiro m�sico brasileiro cujos discos j� vi alguns de n�s at�pica gera��o de c�ticos e soturnos jovens de trinta e poucos anos colecionar.

Viraria �dolo talvez, dessa gera��o que n�o v� o que idolatrar.

H� pouco tempo estive para entrevistar Russo. Os contatos foram cheios de rumores e suspeitas. Nem assim imaginei que era Aids o mist�rio.

Quando soube de sua morte, eu ia de Massachusetts para Rhode Island e Nova York, nos Estados Unidos, onde o outono tem folhas cor de fogo nas �rvores, amarelas, alaranjadas, a ponto de secar e morrer.

Lembrei da cara de bom menino de Russo. E por mais que ele fizesse, em suas can��es, alus�es a essa praga contempor�nea como em ''Love in the Afternoon'': ''� t�o estranho/Os bons morrem jovens/(...)'' foi surpresa que ele tivesse morrido de Aids.

Sua morte intensifica a convic��o de que essa � uma gera��o de estranhos suicidas involunt�rios (o que dizer do mundo vazio das modelos que quase se matam por dois quilos a menos numa lipoaspira��o?).

Gera��o que n�o distingue conte�do de apar�ncia, e cuja luta contra o destino das inevit�veis folhas mortas parece mais ingl�ria do que a de todas as outras gera��es.

 

 

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