Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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SEGREDOS
DE RENATO RUSSO
O roqueiro da Legi�o Urbana escondeu dos f�s v�rias hist�rias de sua vida pessoal (Revista Isto� - 23/10/1996) (Por Celina C�rtes e Ivan Claudio) O cantor e
compositor Renato Manfredini J�nior, o Renato Russo, morto na sexta-feira 11,
aos 36 anos, em decorr�ncia da Aids, tinha dois grandes segredos em sua vida. O
primeiro pegou de surpresa o Pa�s e os milhares de f�s adolescentes da banda
de rock Legi�o Urbana. Renato se sabia soropositivo h� seis anos e morreu
recluso em seu apartamento em Ipanema, Rio de Janeiro, sem tornar p�blica sua
enfermidade. O segundo grande segredo dizia respeito ao seu filho, Giuliano
Manfredini, de sete anos, fruto do relacionamento fortuito com uma f�. Desde o
nascimento do garoto, que mora com os av�s paternos em Bras�lia, Renato se
recusava a falar sobre o epis�dio. Dizia apenas que a m�e de Giuliano era uma
modelo paulista, morta em um acidente de carro em 1990. Seu nome, segundo
revelou a ISTO� um parente pr�ximo do artista, era Rafaela Bueno. A garota, f� da
Legi�o Urbana, invadiu o quarto do hotel onde Renato estava hospedado em S�o
Paulo durante uma turn�. Sabendo que estava no per�odo de fertilidade, foi
incisiva. "Tudo o que quero na vida � ter um filho seu." Renato
satisfez seu desejo. Tr�s meses depois do nascimento da crian�a, o artista foi
surpreendido pela visita da m�e de Rafaela na casa em que o cantor morava com
os av�s, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Com o beb� nos bra�os, a
mulher pediu para que Renato o criasse, pois na sua fam�lia ningu�m se
responsabilizaria pela tarefa. Nunca mais se viram. Giuliano nem sequer sabe o
nome da m�e. Ele reserva este tratamento � m�e do cantor, Maria do Carmo, 60
anos, professora aposentada. Mas, de tr�s em tr�s meses, quando se encontrava
em Bras�lia com Renato, o chamava de pai. T�o certo da paternidade,
recentemente o m�sico reagiu quando o pai dele sugeriu um exame de DNA para ter
certeza de que Giuliano era mesmo seu neto. "Imagina que besteira, eu sei
que ele � meu filho, eu sinto isso", afirmou. Hist�rias como
esta recheiam a curta e intensa vida de Renato Russo. O autor de longas
narrativas como Eduardo e M�nica e Faroeste
caboclo teve uma trajet�ria mais rica e acidentada que os pr�prios
personagens que criou em rocks �cidos e baladas melanc�licas. Renato come�ou
a sofrer os sintomas mais graves da Aids no in�cio do ano, entrando em profunda
depress�o. Segundo Admo Manfredini, primo-irm�o de Renato Manfredini, 71 anos,
pai do cantor, o artista se entregou completamente � doen�a. "Costumava
visit�-lo sempre. Ultimamente, ele passou a sofrer de anorexia nervosa, que n�o
o deixava comer. Com isso, foi enfraquecendo cada vez mais. N�o fazia nenhuma
for�a para se restabelecer. N�o tinha nenhuma disposi��o ou �nimo nem
tomava mais os rem�dios. Foi se acabando e perdeu o controle das atividades
fisiol�gicas. Acho que n�o queria mais viver." Diferente de
Cazuza, que suportou os devastadores efeitos da Aids durante tr�s anos, no caso
de Renato as infec��es oportunistas caracter�sticas da s�ndrome foram
fulminantes. Ele emagreceu 20 quilos dos seus 65 habituais no curto espa�o de
tr�s meses e come�ou a ter problemas pulmonares e hep�ticos. Nem o t�o
festejado coquetel de drogas, que reduz a quantidade de v�rus do sangue,
conseguiu deter a sua debilidade progressiva. Alco�latra desde os 17 anos e
durante longo tempo viciado em coca�na - tendo, inclusive, experimentado a hero�na,
considerada o �ltimo patamar do dependente de drogas -, Renato tinha sequelas
dos excessos cometidos. Isto talvez tenha apressado o processo. O cl�nico geral
Saul Bteshe, um dos tr�s m�dicos que o assistiram em seu apartamento, conta
que ele teve uma grande reca�da na semana anterior � morte e pediu para
suspender a medica��o. A velocidade com que foi consumido pela enfermidade
impediu at� que sua m�e o visse vivo. Quando morreu, � 1h15 da madrugada, v�tima
de septecemia, infec��es pulmonares e renais, estava acompanhado apenas do pai
e de um dos quatro enfermeiros que se revezavam a seu lado. Tudo na vida de
Renato Russo se deu de forma muito r�pida. Quando morava em Bras�lia, em
meados dos anos 70, ele era apenas um professor de ingl�s e estudante de
jornalismo. Um belo dia, come�ou a espetar alfinetes nas roupas e resolveu
montar uma banda punk, Aborto El�trico. O ambiente era prop�cio. Mas sua
carreira s� detonou mesmo em 1983, quando se juntou aos parceiros Dado
Villa-Lobos e Marcelo Bonf�, formando a Legi�o Urbana. Em oito discos, a banda
vendeu mais de cinco milh�es de c�pias e emplacou hinos adolescentes como Ser� , Gera��o Coca-cola,
Ainda � cedo, Tempo perdido, Que pa�s �
este, H� tempos e Pais
e filhos. O sucesso n�o lhe proporcionou uma vida tranquila. J� no in�cio
de carreira, Renato havia tentado o suic�dio quando a gravadora EMI amea�ou
rescindir o contrato com o grupo. Cortou os pulsos e por um per�odo n�o
conseguia tocar o baixo. O m�sico Renato Rocha, o Negrete, foi convocado �s
pressas para substitu�-lo no instrumento e acabou ficando na banda tr�s anos.
Outra tentativa de suic�dio teria ocorrido quando Renato soube que havia se
contaminado com o HIV. Devido �s
constantes crises de seu temperamento inst�vel, ano a ano os shows da Legi�o
foram ficando mais raros. Desde o antol�gico confronto do vocalista com uma
ensandecida turba de 50 mil espectadores no Est�dio Man� Garrincha, em Bras�lia,
em 1988, Renato come�ou a ter problemas com a plat�ia. Nesse show malsucedido,
o artista foi agredido por um f� com problemas mentais que invadiu de repente o
palco. Disparou um discurso inflamado contra a viol�ncia e provocou um
quebra-quebra generalizado que resultou em 385 feridos, 60 detidos e 64 �nibus
depredados. No �ltimo espet�culo da banda, em janeiro de 1995, em Santos,
depois de ser atingido no peito por uma lata de cerveja vazia, fez um protesto
debochado, permanecendo deitado no palco por nove minutos enquanto seus
parceiros tocavam Faroeste caboclo. Em 1988,
alegando n�o mais poder enganar seu p�blico, ele assumiu publicamente ser
homossexual. "Isto faz parte de minha vida, n�o � um problema",
comentou mais tarde em entrevista a ISTO�. Na verdade, seu relacionamento
afetivo com seus namorados � que lhe traziam problemas. Renato teve duas
grandes paix�es. A primeira delas aconteceu em 1990, quando conheceu num bar
gay de Nova York o americano Robert Scott, viciado em anfetaminas. O namoro
durou dois anos e neste per�odo Scott chegou a morar com Renato no Rio de
Janeiro. Numa temporada americana chegaram a compartilhar durante um m�s e meio
sess�es de hero�na. A separa��o deixou o artista muito mal. "Acho que
vou ficar uns dez anos escrevendo m�sicas do tipo meu amor partiu",
lamentou na �poca. Para se curar da
fossa, Renato gravou em 1994 o disco solo The
Stonewall celebration concert, onde interpretava can��es populares
americanas. O disco comemorava os 25 anos do surgimento do movimento gay nos
Estados Unidos e trazia no encarte uma recorda��o deixada por Scott. Numa foto
da mesa de trabalho de Renato se pode ver uma placa verde com os dizeres "Russ
- California". Segundo um ex-namorado de Renato, que n�o quis se
identificar, o artista se referia com nostalgia � recorda��o. A outra paix�o
de Renato foi o carioca Cristiano, um garoto de periferia com quem o artista se
relacionou at� meados de 1995. O rompimento se deu durante a grava��o do
segundo disco solo Equil�brio distante,
s� com can��es italianas. A videomaker
Mari Stockler, que dirigiu o clipe de Strani
amori, uma das faixas do disco, lembra a ang�stia do cantor. "Tivemos
de adiar a grava��o devido a uma crise do Renato. De repente ele come�ava a
repetir que ia ficar deprimido e no dia seguinte estava incomunic�vel."
Depois, como que sa�do de uma tormenta, ele era outra pessoa. Quando viu o
clipe pronto, adorou. "Parece filme italiano", disse. O elogio fazia
sentido. Cin�filo apaixonado, Renato tinha uma cole��o invej�vel de t�tulos.
Um diretor, no entanto, ocupava sua prefer�ncia. Era o italiano Pier Paolo
Pasolini, cujos filmes o artista n�o cansava de exibir para os amigos, imitando
inclusive os trejeitos popularescos dos personagens. A adora��o por Pasolini
transcendia as telas. Como o cineasta, tamb�m homossexual, Renato tinha uma
predile��o por rapazes de sub�rbio. Nelson Feitosa, editor da revista Sui
generis, dedicada ao p�blico GLS (gays, l�sbicas e simpatizantes), que
frequentava a casa de Renato, confirma essa prefer�ncia. "Era uma esp�cie
de op��o est�tica, ele gostava de pessoas simples e do seu estilo
natural." Embora corra o
risco de se converter num �cone gay, Renato com certeza deixou um grande legado
po�tico para a legi�o de roqueiros. Onze m�sicas in�ditas foram exclu�das
de A tempestade ou o livro dos dias, o
�ltimo CD do Legi�o Urbana, lan�ado h� um m�s. Existem ainda tr�s can��es
em italiano e uma assinada por S�rgio Mendes. O �ltimo desejo de Renato era
que suas cinzas fossem jogadas num jardim florido.
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Skooter 1998 - 2008 |
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