Mudaram as esta��es. Algo mudou. J� faz um ano que Renato Russo passou a sobreviver nos velhos discos dos f�s mais apaixonados e em can��es lan�adas postumamente. "Sou uma gota d’�gua / sou um gr�o de areia"; s�bios versos.

O que mudou com a morte de Renato Russo? Nada. Ou quase. Afinal, se prestarmos mais aten��o, veremos que um triunvirato poderia mudar, de algum modo, os rumos da cena pop / rock nacional e da MPB: Renato Russo, Cazuza e Chico Sciense. Cada qual, a seu modo, estava estabelecendo pontes entre os dois lados de nossa produ��o nacional.

Se Cazuza era rasgado e dilacerante / dilacerado como um acorde de blues e Chico Sciense se mostrava antropof�gica e nordestinamente pop, Renato ia mais al�m. Oscilava entre a f�ria punk adquirida nos tempos do Aborto El�trico e o lirismo da B�blia e a poesia de Cam�es; oscilava entre versos em "portugu�s errado" e letras em italiano sentimental sem parecer piegas.

Uma das coisas que chamava aten��o em Renato era a sua capacidade de escrever letras ora instigantes, ora quilom�tricas, que acabavam sendo decoradas por milhares de jovens e adolescentes que nunca leram Castro Alves, Augusto dos Anjos ou Vin�cius de Moraes, mas que, de repente, tomavam contato com uma id�ia inicial do que era poesia. Afinal, somos t�o jovens...

Acrescente-se a isso a aura que envolvia suas letras. Renato dificilmente falava em termos expl�citos de sua homossexualidade (vide "Daniel na Cova dos Le�es", cheia de imagens e met�foras). Ele escrevia sobre os dilemas da homossexualidade que, por algum motivo, pareciam ter afinidade com os grilos dos namoros dos adolescentes dos anos 80 / 90. Qualquer jovem, hetero ou homossexual, que nunca tenha lido uma letra de Renato como se fosse um momento de sua pr�pria vida, favor atirar a primeira pedra.

Pena que, agora e h� um ano, tanto faz...

Texto enviado por: Fabiano Moraes - Legi�o Urbana Web F� Clube