|
|
A Morte do Poeta
Jornal "O Povo"
Renato Russo morre no Rio e deixa inconsol�vel uma legi�o de f�s, admiradores e "russoman�acos"
Data: 12/10/96 Tamanho: G
Editoria: Vida & Arte P�gina: 1B
Clich�: Primeiro
Autor: Luciano Almeida Filho
Cr�dito: Ag�ncia Estado
Legenda: Renato Russo durante um show em S�o Paulo: inf�ncia fr�gil, f�ria punk, explos�o rock e romantismo derramado
Observa��o: Leia mais p�gs. 4, 5 e 8/B
Morreu no in�cio da madrugada de ontem, � 1h15min, o cantor Renato Russo, l�der da banda Legi�o Urbana. Em fax enviado � reda��o pela gravadora EMI-Odeon, o motivo da morte teria sido "problemas infecciosos pulmonares" (sic). Renato estava em seu apartamento no Rio de Janeiro. O corpo foi cremado e n�o houve qualquer cerim�nia de vel�rio, atendendo a pedidos do pr�prio Renato. O fax � assinado pelos outros companheiros de Legi�o, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonf�, e o empres�rio Rafael Borges.
Em entrevista � reportagem da Ag�ncia Estado, Fernanda Villa-Lobos, esposa do guitarrista Dado, Renato Russo estava com forte crise de depress�o. "Ele estava anor�xico e an�mico, com forte sobrecarga emocional", disse. Diplom�tica, Fernanda n�o quis se pronunciar ao boato de que Renato Russo fosse portador do v�rus da Aids: "Est� todo mundo falando isso, mas � uma coisa que ele n�o falava, n�o cabe a mim comentar". Nos �ltimos dias, circulava forte boato sobre o suic�dio de Renato no Rio. Segundo ela, Dado foi at� o apartamento do cantor e o encontrou em depress�o profunda, chorando muito e sem querer comer.
Com seu desaparecimento, Renato Russo se junta a Cazuza como s�mbolo de uma gera��o de artistas que uniram rock, poesia e contesta��o. Mais ainda que o exagerado ex-l�der do Bar�o Vermelho, Renato era um verdadeiro guru para seus f�s. Era uma esp�cie de porta-voz de toda uma gera��o. � comum ouvir de seus f�s a declara��o: `ele fala coisas que eu gostaria de falar'. Renato conseguiu atrav�s de sua poesia, seus rocks furiosos e can��es l�ricas, dar voz a ang�stias de adolescentes em meio �s cobran�as impostas pela sociedade, a fam�lia etc.
Os discos da Legi�o eram esperados nas lojas de forma quase religiosa. Renato execrava a imagem de Messias que os f�s impunham a ele. Isso o deixava angustiado e foi motivo de v�rias crises de depress�o do artista - aliado a problemas particulares. V�rios incidentes ocorreram durante shows da Legi�o, inclusive com mortes, grande parte deles creditados ao fanatismo dos jovens pela figura de Renato Russo. Tais fatos chegaram a afast�-lo dos palcos por v�rios anos, apesar da insist�ncia dos admiradores que lhe cobravam shows da banda e at� apresenta��es com material de seus projetos solos.
Renato Manfredini Jr. teve uma inf�ncia conturbada. Ao mesmo tempo que era bem nascido, teve oportunidade de morar em outros pa�ses - inclusive nos EUA - devido � profiss�o do pai, o pequeno Renato sofreu com uma sa�de fr�gil. Uma virose chegou a deix�-lo de cadeiras de rodas por alguns anos. Cresceu apaixonado por literatura e m�sica. Era f� dos Beatles, dos poetas malditos, do rock progressivo mas descobriu no punk, e na filosofia `no future', o canal para destilar suas revoltas. Montou ent�o a banda Aborto El�trico que fez arrua�a em Bras�lia ainda em plena ditadura - era 1978.
O fim do Aborto El�trico foi precoce. Se aparentemente a banda n�o teve �xito, foi respons�vel por lan�ar a semente da gera��o do rock de Bras�lia nos anos 80. Diversas bandas foram criadas pelos f�s da banda - incluindo a� at� a forma��o original dos Paralamas do Sucesso (que depois mudaram para o Rio). As fitas com registros dos shows do Aborto s�o hoje raridades valios�ssimas e disputadas a tapas pelos fan�ticos. Renato ainda chegou a fazer pequenos shows solo quando resolveu montar sua segunda banda com outros garotos de Bras�lia: a Legi�o Urbana.
Inicialmente era um trio, com Renato Russo respons�vel pela voz e baixo, Dado Villa-Lobos na guitarra e Marcelo Bonf� na bateria. A Legi�o Urbana j� tinha p�blico cativo em Bras�lia quando chamou aten��o da m�dia do Rio e S�o Paulo. Os pr�prios Paralamas gravaram "Qu�mica" - m�sica dos tempos do Aborto que permaneceu no repert�rio da Legi�o - no seu primeiro disco. Renato Rocha foi convocado para o baixo poucos meses antes das primeiras apresenta��es no Rio. Em 1984, a banda assina contrato com a gravadora EMI-Odeon para fazer o primeiro disco. O trabalho foi produzido pelo jornalista e cr�tico de m�sica Jos� Em�lio Rondeau. "Ser�" e "Gera��o Coca-Cola" foram os principais sucessos que deram in�cio � Renatorussomania. Leia mais sobre Renato Russo e Legi�o Urbana nas p�gs. 4, 5 e 8.
|
|
|