Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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Revista Veja, 09/08/2000

Roqueiro marqueteiro

Correspond�ncia com diretor de gravadora mostra que Renato Russo era bom vendedor

S�rgio Martins

Desde que Renato Russo morreu, em 1996, aos 36 anos, em decorr�ncia da Aids, come�ou um culto ao grupo de rock que ele liderava, o Legi�o Urbana. Covers da banda se multiplicam pelo pa�s. Colet�neas com os sucessos do conjunto s�o lan�adas todos os meses. De olho nesse mercado que se assemelha a uma seita religiosa, o diretor art�stico da gravadora BMG, Jorge Davidson, um dos mais importantes executivos da �rea musical no pa�s, resolveu abrir o ba�. Nos anos 80, ele trabalhava na EMI, que manteve a banda sob contrato durante toda a sua exist�ncia. Entre 1984 e 1986, Davidson trocou correspond�ncia com Renato Russo. O material servir� de base para um livro que o executivo pretende escrever. VEJA teve acesso com exclusividade �s duas dezenas de bilhetes e cartas de Renato reunidas por Davidson. Nesses escritos, n�o h� nenhuma revela��o de ordem pessoal. Renato, por exemplo, n�o fala nada sobre sua propalada bissexualidade, que ele assumiria na d�cada de 90. H�, no entanto, surpresas sobre a maneira como o cantor planejava a pr�pria carreira. A imagem que a maior parte dos f�s do Legi�o Urbana tem dele � a de um poeta rebelde, j� que Renato adorava criticar a ind�stria do disco em entrevistas. Seus bilhetes revelam uma faceta diferente. Renato tinha um faro acurado para determinar quais m�sicas da banda iriam tocar no r�dio. Fazia lobby com a gravadora nesse sentido. Era tamb�m obcecado pela imagem do conjunto. Os palpites que dava raramente estavam errados. Era, em �ltima an�lise, um campe�o do marketing.

Entre as cartas de Renato Russo se destaca o ma�o referente ao disco Dois, lan�ado em 1986. H�, nos bilhetes, pouco sobre letras e arranjos e muito sobre como cada faixa deveria ser "vendida". A certa altura, por exemplo, Renato escreve: "Muitos acreditam que Tempo Perdido � a faixa mais forte do disco - e conseq�entemente hit single instant�neo. Mas n�o � a faixa para ser trabalhada de in�cio". Ele achava que a gravadora deveria investir na can��o Eduardo e M�nica. Dito e feito. Foi isso que ocorreu e o disco foi um dos maiores sucessos da hist�ria da banda, com 1,5 milh�o de c�pias vendidas. Davidson acredita que Renato tinha essa vis�o de marketing desde o in�cio do Legi�o. Como se achava muito feio, convidou dois gal�s para tocar com ele, para contrabalan�ar - Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonf�. Renato tamb�m contou a Davidson que o baixista da primeira forma��o do Legi�o, Renato Rocha, o Negrete, foi escolhido porque o m�sico achava de bom-tom ter um grupo multirracial. "Ele queria um conjunto que fosse a cara do Brasil, com um negro, um descendente de �ndios - eu -, um ruivo, o Marcelo, e um filho de italianos, ele pr�prio", confirma o guitarrista Dado Villa-Lobos.

Cassetete el�trico - O talento de Renato para fazer barulho precede o Legi�o. A primeira banda que formou foi o Aborto El�trico, um grupo punk de Bras�lia nos anos 70. Em entrevistas, dizia que o nome do conjunto era em homenagem a uma mo�a gr�vida que, na �poca da ditadura, havia apanhado de um policial com um cassetete el�trico at� perder o filho. Essa hist�ria era mentira, mas ajudava a chamar a aten��o para o Aborto. J� como l�der do Legi�o Urbana, ele se inspirava na biografia de artistas famosos para planejar a carreira da banda. N�o h� nada de mais em um roqueiro entender de marketing. Os grandes nomes desse g�nero, como Mick Jagger ou Paul McCartney, sempre fizeram quest�o de dar palpite na publicidade de seus grupos. Renato Russo, assim, est� em boa companhia. E � ineg�vel que ele n�o fazia sucesso apenas por suas maquina��es. Tinha talento para criar can��es que veiculavam, em doses fartas, aquela mercadoria que os adolescentes consomem por quest�es hormonais: a rebeldia.

 

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