Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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 OS POETAS MORREM T�O CEDO

Renato Russo e Cazuza viveram os excessos do rock'n'roll em

tempos de AIDS

(Zero Hora - 14/10/1996)

 

Renato Russo viveu e morreu dilacerado. Foi expl�cito na simplicidade adolescente e na complexidade do amadurecimento. Foi Rimbaud como seu �dolo Jim Morrison: quis reinventar a �nica coisa que lhe interessava, o amor, e morreu por causa dele. "Ver�s que o amor em mim n�o cabe, n�o d� sossego", escreveu o poeta maldito franc�s. Renato sempre sofreu muito por amor. Fantasioso, gostava um pouco disto.

Cazuza viveu e morreu de excessos. Foi expl�cito at� o fim, na maneira de escrever e no modo de encarar a morte. Foi transformer como o �dolo Lou Reed, caminhando sem medo, retorno ou piedade pelo lado selvagem da exist�ncia. Cazuza amava a vida e queria aproveitar cada minuto dela como quem usufrui o efeito derradeiro de uma droga. Hedonista, n�o era afeito a concess�es.

Renato morreu feito um gato, escondido, como quem curte a solid�o da morte. "Quando tudo � solid�o, � preciso acreditar num novo dia", escreveu. Cazuza morreu feito uma fera, com as feridas expostas, como quem enfrenta a batalha perdida com orgulho de desafi�-la. "Solid�o, que nada", proclamou. Renato e Cazuza morreram jovem, de um mesmo mal. Se mortes podem, de alguma forma, refletir personalidades; as deles foram um espelho fiel. Renato e Cazuza foram os maiores poetas da, gera��o roqueira dos anos 80, uma turma de, garotos que estava sendo sacudida pelo ide�rio punk, ainda se sentia abalada pela revolu��o hippie e vivia num pa�s que ensaiava os primeiros passos democr�ticos. S�o parte da trilha sonora de uma d�cada rica em descobertas e ac�mulo de informa��o, atravessaram os anos expondo sentimentos e embalando romances, padeceram de uma morte anunciada e a encararam de forma diferente.

Cazuza agonizou em pra�a p�blica e alertou para o perigo da AIDS na capa de revistas semanais e nas telas sangrentas das tev�s. Renato se recolheu ao seu mundo feito anjo triste e denunciou a doen�a e a explora��o sensacionalista em versos de A Tempestade, seu �ltimo trabalho com a Legi�o Urbana: "Beba desse sangue imundo / e voc� conseguir� dinheiro / e quando o circo pega fogo / somos os animais na jaula" (Nat�lia).

Cazuza foi Sid Vicious cuspindo na hipocrisia e chocando como lhe convinha. Magro, sem voz e sem for�as, zombou da beleza da vida quando a morte era inevit�vel.

Renato foi Kurt Cobain, deixando �rf�os perplexos e se entregando ao fasc�nio da morte (para ele, a busca de um lugar mais feliz). O desapego a uma exist�ncia que j� n�o lhe dava prazeres foi sua prova derradeira de amor � vida.

Renato, o rebelde, Cazuza, o indom�vel, foram sexo, drogas e rock'n'roll em tempos de c�lera. Seguiram os passos abertos por seus �dolos e pegaram a AIDS no meio do caminho (como disse o pr�prio Renato). Ao cruzar a esquina inevit�vel, mal tiveram tempo de olhar para tr�s, acrescente-se. Antes dela, por�m; trilharam como homens livres o caminho do excesso que leva ao pal�cio da sabedoria de Blake, e deixaram sua heran�a. Os poetas morrem cedo. As poesias, jamais.

 

 

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