Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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Renato Russo conhecia seu destino

Zero hora, dia 23/06/00

O apartamento da pintura Leo Coimbra, 41 anos em Bras�lia, tem livros e obras de arte espalhados por quase todos os cantos . Em algum desses recantos muito bem guardados as lembran�as (fotografias, discos e cart�es ) de um grande amigo da fam�lia: Renato Russo. Leo conheceu o m�sico e compositor no in�cio dos anos 80, antes de a legi�o Urbana nascer. Foi a homenagem a ela e ao marido, um diplomata, que Renato comp�s Eduardo e M�nica. Para falar do temperamento, do cotidiano e do trabalho de seu amigo, Leo recebeu o Zerou em sua casa:

Zerou- Como voc� conheceu o Renato R?

Leo- Foi no in�cio dos anos 80, em Bras�lia. Em um lugar chamado Adrenalina, onde iam os punks. O Renato dava aulas de Ingl�s e conhecia minha cunhada, tamb�m professora.Quando me apresentaram, fiquei impressionad�ssima com a figura. Ele tinha dois buracos na cal�a, na altura do joelho, e um A e um E desenhados a caneta em cada perna. Era s�mbolo do Aborto El�trico, sua banda. Era uma figura impressionante, carism�tica. De cara n�s ficamos superamigos. Foi m�tua a simpatia. 

Zerou- Como era esse carisma? 

Leo- Ele n�o era nem um pouco t�mido. Ele era um cara muito inteligente, tinha uma cultura geral abrangente. Se gostava de moda, por exemplo, ele falava de moda. Sabia puxar um assunto, entendia de v�rios temas. 

Zerou- Voc�s foram amigos at� ele morrer? 

Leo- At� ele morrer. Eu passei sete anos fora do Brasil, de 1991 a 1998. A �ltima vez que o vi pessoalmente foi em 1994, quando viajei a Bras�lia de f�rias. Em 1996, viajei outra vez a Bras�lia, mas ele estava no Rio , e a gente s� se falou pelo telefone. Ele j� estava doente, mas eu n�o tinha no��o do grau, do qu�o mal ele estava. Se eu soubesse tinha me virado para ir ao Rio. Mas eu estava sem dinheiro. Ficamos horas falando no telefone, falamos muito sobre o disco Equilibrio Distante. Eu tinha feito um quadro ao qual dei o nome de Equilibrio Distante. Enfim, foi a �ltima vez em que nos falamos, mas nossa rela��o era assim: eu escrevia para ele, e ele sempre me ligava. Ele passava horas no telefone. Ele gostava de falar no telefone. 

Zerou- Diziam que o Renato estava muito deprimido antes de morrer 

Leo- Ele me ligava e falava o que estava sentindo. Mas � muito complicado, quando voc� est� longe, avaliar o grau, o que a pessoa est� passando. Eu tinha a maior expectativa que ele vencesse. N�s tivemos uma briga de amigos antes de ele morrer, e n�o tivemos tempo de nos reconciliar. Ele me ligou uma vez, estava muito mal, e eu disse para ele "sai dessa, reage". Mas ele desligou o telefone. E eu pensei: ele n�o est� morrendo coisa nenhuma. Minha grande m�goa � n�o consegui ver esse momento. N�o houve um eu te perd�o, essas coisas que as pessoas que se amam dizem. Mas isso n�o tem nada ver...Ele estava muito sozinho. N�o viveu um grande amor. O final foi muito amargo. O disco a tempestade � de uma amargura...Eu chorava porque recebi o disco no Equador, antes de sair. Nesse disco, ele n�o tem mais voz, d� para ver que o �ltimo suspiro. Para mim, aquilo foi um baque. Acho que, naquele momento, eu entendi o que realmente estava acontecendo. ]

Zerou- Como ele era no cotidiano? Um cara bem humorado? Mal-humorado? 

Leo- Ele era humano, tinha dias em que ele acordava de mau humor, tinha dias em que estava maravilhoso. Ele tinha uma coisa que eu tamb�m tenho, e por isso entendo perfeitamente: uma curva de humor muito louca, muito acentuada. Tem dias que estou a mil, tem dias em que eu caio. N�s t�nhamos uma rela��o assim: quando eu estava muito deprimida, eu ligava para ele e saia do telefone outra. Com ele acontecia o mesmo. Ele era um a pessoa muito legal, era generoso, mas as vezes , era ego�sta. 

Zerou- Quando ele era generoso e quando ele era ego�sta? 

Leo- Ele era generoso com quem realmente precisava. Ele era ego�sta quando via que as pessoas queriam se aproveitar. O ego�smo era uma defesa. Ele tinha essa ambig�idade, que � realmente extraordin�ria personalidade dele � que ele tinha uma cultura fora do comum. Era um cara muito culto. M�sica, literatura, cinema... Ele lia muito. Varava a noite, era uma cara noturno. Passava a noite produzindo. 

Zerou- Qual sua m�sica favorita da legi�o urbana? 

Leo- � superdif�cil...Adoro Angra dos Reis, acho lindo. Tem v�rias adoro Soldados, gosto muito do disco Dois. Vento no litoral acho maravilhoso. 

Zerou- � verdade que a m�sica Soldados foi composta na sua casa? 

Leo- N�s est�vamos , um dia vendo um livro sobre a II guerra mundial. E ele escreveu Soldados. Rapidinho. Sentou e escreveu. Pronto. Foi assim. 

Zerou- E a hist�ria de Eduardo e M�nica? 

Leo - Essa m�sica ele fez para o meu marido e para mim. � uma homenagem que ele dedicou a gente. Ele publicamente disse que dedicou a gente. Tem tamb�m outra composi��o , Uma outra esta��o, que est� no disco p�stumo que ele dedicou para mim. � uma uma m�sica linda. 

Zerou- A hist�ria da Monica, a personagem da letra, n�o � exatamente a sua hist�ria.

Leo- N�o. Claro que tem coisas com as quais eu me identifico. Por exemplo, eu gosto de poesia , gosto de Rimbaud, adoro Caetano. Mas nunca andei de moto. N�o fiz medicina. Minha v� � alem�, n�o falo nada de alem�o. Meu marido � dois anos mais novo do que e eu, mas na m�sica parece 10. A m�sica na qual eu me identifico cem por cento � Uma Outra Esta��o que � uma resposta que eu escrevi pra ele. Eu estava morando no Equador quando escrevi. 

Zerou- Qual era e a maior qualidade e defeito do Renato? 

Leo- Isso � uma coisa dif�cil, por que o maior defeito � tamb�m a maior qualidade de qualquer um. Acho que a ansiedade era o maior defeito e a maior qualidade do Renato. A qualidade porque fazia com que ele produzisse coisas maravilhosas que ele deixou. E o defeito porque foi o que provocou uma acelera��o do processo do t�rmino. A ansiedade fez com que ele ca�sse tamb�m. Levou-o pra baixo. 

Zerou- Pelo o que voc� contou, ele sentia quando as pessoas se aproximavam por interesse Como ele agia nesses casos? 

Leo- Depende da pessoa. Porque muitas vezes a pessoa se aproxima de um astro e usa artimanha, mas tem alguma para dar. Se havia troca, ele n�o tinha problemas, ele superava o interesse dessa aproxima��o. Agora, se a pessoa s� estava interessada em usufruir ,n�o tinha nada para dar, ele ficava bastante irritado. E ele irritado n�o era nada bonitinho nem agrad�vel. Uma pessoa legal era bem-recebida . Um idiota era mal-recebido. 

Zerou- Depois da legi�o Urbana estourou, o Renato mudou? 

Leo- � dif�cil n�o mudar. Mas ele se tornou uma [pessoa melhor. Porque tinha consci�ncia do que podia mexer na cabe�a das pessoas. Ele tinha consci�ncia desse poder e de que tinha que falar do bem. Fazer a cabe�a da juventude para fazer coisas legais e ser uma pessoa legal, uma pessoa honesta, equilibrada. Ele sabia a for�a da palavra. Ent�o ele mudou nesse sentido: de reconhecer o poder que tinha. Uma coisa que acho legal que todo mundo saiba, � que ele sempre soube qual seria seu destino. Ele sempre soube o que se tornaria, que seria um cara famoso, sempre soube que a vida dele seria curta. 

Zerou- Porque voc� acha que a imagem dele de uns anos pra c� tem sido venerada por jovens de uma faixa et�ria praticamente n�o acompanhou a carreira do Renato enquanto ele estava vivo?

Leo- Isso � muito comum na hist�ria do rock'n'roll. Esses caras que interrompem a vida precocemente n�o est�o mais trabalhando, ent�o ,na verdade, a mem�ria dessas figuras � cultuada para que elas n�o morram. Acho que essa � a fun��o do mito.

Zerou- Um recado para os f�s do Renato?

Leo- acho que tem que falar para esses meninos que a linha do Renato era do bem. Ele estava do lado do bem. E que essa rapaziada escute com aten��o as letras que ele escreveu e se ligue em tudo de positivo dessas letras. Ele cansava de falar isso: se for para fazer rock'n'roll. Pega o teu amigo e a tua guitarra e vai para a tua garagem, abre um espa�o qualquer no teu quarto , e faz rock'n'roll. Em vez de estar a� , dando porrada , bancando o mala, o mauricinho, o babaquinha, o idiotinha, vai fazer alguma coisa que realmente fa�a a cabe�a das pessoas para o bem. Para que a gente transforme um pouco essa heran�a que a gente tem da col�nia, dessa corja de ladr�es, e aventureiros, de trapaceiros, de corruptos. E cabe a essa rapaziada. � a eles que est� reservado o mundo

Entrevista por �ngela Rapazelho

 

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