RENATO CAPTOU ESP�RITO DA GERA��O CRIADA DEBAIXO DO MILITARISMO
(Estado - 11/10/1996)
O rock brasileiro perdeu seu maior poeta. Renato Russo, vocalista e
compositor da Legi�o Urbana, captou o esp�rito de toda a blank generation criada sob as
botas do militarismo p�s-64. "Somos burgueses sem religi�o, somos o futuro da
na��o: gera��o Coca-Cola," vociferava no primeiro disco da banda, em 1984, quando
o Brasil retomava os caminhos da democracia. Aos 36 anos, Russo andava deprimido havia
muito tempo. Pol�mico e controverso, Russo foi punk, definiu seu grupo de rock como
filhos da revolu��o e nos �ltimos anos adotou uma posi��o aberta em rela��o a sua
condi��o de homossexual sem fazer disso uma bandeira. Ao lado de Dado Villa-Lobos e
Marcelo Bonf�, Russo foi o respons�vel pela inser��o de Bras�lia no panorama do rock
nacional. Aberta a porta pela Legi�o, outros grupos como Detrito Federal, Plebe Rude e
Capital Inicial atingiram os ouvidos das novas gera��es brasileiras na metade dos anos
80. Todos eram muito zangados. Bras�lia foi amada e odiada por Renato Russo. Foi na
capital do Brasil que ele desenvolveu seu rock e forjou a f�ria e o sarcasmo de seus
versos bem constru�dos. Foi em Bras�lia, em 1988, que ele foi execrado pela cidade que
criou o rock da Legi�o Urbana. Um show da banda no est�dio Pelez�o, em junho de 1988,
marcou para sempre a trajet�ria da banda. Um f� invadiu o palco e come�ou a agredir
Russo. Foi o estopim de uma noite infernal. No final, 385 feridos e um discurso inflamado
de Russo prometendo nunca mais tocar em Bras�lia. O epis�dio foi classificado como uma
esp�cie de Altamont brasileiro, refer�ncia a um concerto dos Rolling Stones em dezembro
de 1969 que quase acabou em trag�dia. Clone vocal de um �dolo da Jovem Guarda, Jerry
Adriani, Russo deu a volta por cima nessa armadilha do destino. E fez o caminho pelo
avesso: se Jerry come�ou cantando em italiano, Russo acabou a carreira com um disco solo
na l�ngua de Dante. Deprimido cr�nico, dependente confesso de �lcool e coca�na, Russo
sempre atraiu a aten��o dos rep�rteres, fosse pelo h�bito de quase n�o falar �
imprensa ou pela torrente de declara��es bomb�sticas que flu�a quando ele resolvia
abrir a boca.
Texto enviado por: Fabiano Moraes - Legi�o Urbana Web F� Clube