Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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HIST�RIA DO CANTOR ERA DE MORTE ANUNCIADA
Renato Russo tinha uma sensibilidade especial para o drama

 (O Estado de S�o Paulo - 11/10/1996)

(Por Alex Antunes)

 

Antes do fim de 83, um trio brasiliense come�ou a aparecer em S�o Paulo, para tocar no Napalm e em outras casas underground. Era a Legi�o Urbana, apenas mais uma banda p�s-punk - el�trica, direta, r�pida, compacta, barulhenta. E, no entanto, uma certa... intensidade? sinceridade? credibilidade? j� emanava dos caras, em especial do feioso vocalista e baixista, um certo Renato Russo (pseud�nimo), com pendor para letras mais, eh, liter�rias (sorry) do que a m�dia.

O povo das bandas paulistas o seguia, esp�cie de f�s num ambiente onde n�o os havia. Eu era um desses. Nos dez anos seguintes, encontrei a Legi�o in�meras vezes - o grupo de popstars, eu como jornalista. Escrevi mil vezes sobre eles; hoje, vendo a cara do Renato Russo na televis�o, s� posso admitir que eu mesmo nunca entendi nada. Russo congelado para sempre como uma esp�cie de enigma - sempre pr�ximo (como no come�o), sempre distante (como no final), ridiculamente transparente, rigorosamente inexpugn�vel. A hist�ria de Renato Russo � a de uma morte anunciada - n�s o pegamos para Cristo (e como ele gostou disso!).

Outro dia, conversando com Skowa, ele falava no "poder" do artista em cima de um palco. Propus-lhe um ponto de vista diferente, o do vudu: entre o gal� e a fanzoca, quem � que recorta, fura e prega a imagem de quem, no caderno ou na parede? Quem � que se exp�e nas luzes, quem � que esconde o rosto nas sombras? Quem � que engole quem, quem � escravo de quem? Renato Russo era escravo dessa id�ia, dessa hist�ria. Uma sensibilidade especial para o drama pequeno e mortal, o foco menor e o mais intenso.

 

ESPELHO

Algu�m an�nimo o p�ra no corredor do Shopping da G�vea e, agressivamente, pergunta: "Quem te deu o direito de ficar espalhando o que acontece na minha vida na tua m�sica (Ainda � Cedo)?" Essa era a vida do Russo, no espelho do espelho.

Ele tentou quebrar o encanto, assumindo o lado messias: em um �nico show, foi capaz de discursar seguidamente contra a fraude nos vestibulares, o servi�o militar obrigat�rio, os cambistas de ingressos e as elei��es indiretas. Ou ent�o tentou assumir o entertainer: fez queimar fogos de artif�cio ao som de Rhapsody In Blue, em outro ano, em outra apresenta��o. Para o p�blico, era a mesma coisa: era ele!, Renato Russo.

S� ele n�o sabia quem era, s� ele n�o aceitava o jogo (como Kurt Cobain). E ainda esperava um gesto, um sinal do p�blico an�nimo, amorfo e ensandecido (Russo quase causou uma cat�strofe por insistir em tocar em est�dio sem impor o fosso entre o palco e a plat�ia). Talvez tivesse escr�pulos demais ("N�o vou fazer o equivalente sonoro das fotos de Robert Mapplethorpe"), o outro nome para a covardia. Talvez procurasse um sentido que simplesmente n�o existe (organizava seus 2 mil discos por ordem... de prefer�ncia!).

Morreu enquanto dorm�amos. Continuaremos dormindo.

 

 

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