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LEGI�O URBANA FAZ CAN��ES PARA JOVENS
EM CRISE
Novo disco da banda, A Tempestade', � manual de
educa��o sentimental repleto de clich�s
(Estado - 24/09/1996)
(Por Jotab� Medeiros)
Convenhamos: os versos do Legi�o Urbana n�o s�o o que costumamos chamar de
"achados po�ticos". Observem: N�o confunda �tica com �ter / N�o fa�amos do
amor algo desonesto / N�o se pode olhar pra tr�s sem aprender alguma coisa pro futuro /
Tem gente que n�o tem nada e outros t�m mais do que precisam. Todos esses MaCclich�s
est�o em Tempestade (EMI), o novo disco do Legi�o, que � uma esp�cie de manual de
educa��o sentimental para teenagers com crises existenciais e mesadas espor�dicas.
Renato Russo fala de como acha que o teen deve proceder em assuntos de amor, trabalho,
amizade, lealdade, etc. Renato Russo, no entanto, n�o � uma "m� influ�ncia",
no sentido kierkegaardiano do termo. Nem � burro: fez o disco com uma inten��o clara e
incluiu at� um manifesto dessa disposi��o, a can��o Aloha, em que diz: A juventude
est� sozinha / N�o h� ningu�m para ajudar a explicar / Por que o mundo / � esse
desastre que a� est�." Da�, Russo se disp�e a explicar o mundo. Ele tinha
abandonado essa inten��o desde que o acusaram de messianismo, nos j� distantes anos 80.
Sua determina��o de dizer como o "�rf�o" adolescente deveria se comportar
tinha esmaecido quando houve um quebra-costela monumental num show em Bras�lia, os
"�rf�os" se comendo de pau. Mas Russo voltou � carga em A Tempestade. O
problema � que ele � um professor que subestima os alunos. Seu CD �, tamb�m em
sonoridade, um disco que remete � Legi�o dos anos 80, os "anos teen" do rock
nacional. H� equivalentes sonoros bastante evidentes, como a can��o Dezesseis, que �
um �bvio remake de Faroeste Caboclo, desta vez tendo como personagem um James Dean
tupiniquim. O disco � muito ruim, para n�o ficarmos em eufemismos. Os tecladinhos
batidos de sempre conferem aquele som pr�-Smiths a can��es-ladainhas (como o
carro-chefe A Via L�ctea), did�ticas ou catequizantes. Quando � rock, � antediluviano,
lembrando aquelas coisas a que fomos submetidos nos anos dourados: Zero, Capital Inicial,
RPM. No mundo das hip�teses, sinceramente, � at� prefer�vel que tenha sobrado Renato
Russo ditando regra do que o inferno que seria ag�entar Paulo Ricardo ou Guilherme Isnard
ou Dinho Ouro Preto, se esses tivessem sobrevivido. Renato Russo � um dos mais
interessantes artistas do rock nacional e � tamb�m um dos mais obstinados. Quando faz
discos-solo, como o excepcional Stonewall Celebration, se supera e mostra que tem
refer�ncias. Com o Legi�o, alterna bons e maus momentos, como esse Tempestade, mas n�o
se pode dizer nunca que seja incoerente.
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