Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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LEGI�O URBANA ABRE TEMPORADA DE NECROFILIA

(Folha de S�o Paulo - 17/07/1997)

(Por Pedro Alexandre Sanches)

 

� hora de enfrentar. "Uma Outra Esta��o", primeiro CD p�stumo do Legi�o Urbana, de Renato Russo (1960-1996), � um ind�cio a mais de que, em arte, a morte � bem menos grave que a necrofilia.

N�o deve ser culpa de ningu�m. F�s, remanescentes da banda e, er..., gravadora, mais que atra�dos pelos odores da morte, devem se encontrar tristes, saudosos, desconsolados ainda.

Torna-se inevit�vel a chegada ao mercado de produtos desse tipo - o pr�prio material promocional j� avisa, de soslaio, que devem vir mais discos ao vivo no futuro.

Os colegas - Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonf� e Renato Rocha (este novamente participando da banda) - se previnem em frase que abre o encarte: "Ou�a este disco da primeira � �ltima faixa. Esta � a hist�ria de nossas vidas".

Torna-se constrangedor contrari�-los, mas isso n�o � verdade. "Uma Outra Esta��o" j� n�o � mais hist�ria, � p�s-hist�ria, se n�o mera necrofilia.

Pois veja: com raras exce��es - talvez caiba a� apenas "Clarisse", a propalada can��o "barra-pesada" da fase final de Russo, 10min32 da vida bandida de uma menina de 14 anos -, o CD exp�e o artista (nessa fase convertido em int�rprete por excel�ncia) depauperado, de voz hipnotizada, son�mbula de morte.

A banda trabalha a sonoridade das can��es, tentando flechar defici�ncias e transformar em rock'n'roll o fio de voz que restava ao outrora trovejante cantor.

Mas os versos de "As Flores do Mal" e "Uma Outra Esta��o", por exemplo, s�o cuspidos, expelidos de forma �s vezes indecifr�vel.

Ainda assim, o disco guarda muito do potencial �pico que fez a del�cia da rela��o da banda brasiliense com o Brasil.

Come�a, em "Riding Song", com um fundo instrumental bem elaborado, tipo rock de viagem, entremeado de grava��es feitas em 86 (� �poca de "Dois"), em que os membros da banda se apresentam.

"Eu sou o Renato Russo, eu escrevo as letras e eu canto, (...) eu tenho 23 anos", diz o l�der, para que depois um coro podreira entoe: "Eu j� sei o que eu vou ser/ Ser quando eu crescer". Os f�s devem se derreter, mas tudo parece m�rbido por demais, tanto quanto sem raz�o de ser.

O que sobra do banquete p�s-f�nebre? O testamento dos �ltimos escritos de Renato - que, saturados de desespero (casos, por exemplo, de "Sagrado Cora��o" - que Renato n�o chegou a gravar - e "Clarisse") correm para longe da velha simbiose messi�nica/adolescente com o p�blico.

Pouco antes de morrer, Renato tornava-se mais herm�tico que nunca. Aqui est� a faixa "A Tempestade", que nomeou o �ltimo disco de Renato em vida -"A Tempestade ou O Livro dos Dias".

A refer�ncia nominal ao texto de Shakespeare, tamb�m um canto de cisne, � inquestion�vel. Vivo ainda, Renato estava j� disposto a alertar o pa�s de sua morte.

Aqui est�, tamb�m, "As Flores do Mal", can��o hom�nima � obra de Charles Baudelaire e t�o sedenta de morbidez quanto. At� m�sica erudita aqui se encontra, na instrumental "Schubert L�nder", de Franz Schubert.

A conclus�o � clara: em vida, dificilmente tais humores encontrariam eco na legi�o adolescente de f�s. O encanto estava quebrado.

Por isso, Renato dispensou do CD - por ora, que morto ele j� n�o poderia determinar o destino das mesmas - can��es como "Clarisse" e "La Maison Dieu".

Morto Renato, um batalh�o �vido - f�s, gravadora, colegas de banda, m�dia - cai por cima do que era para ser pura e simplesmente mat�ria anticomercial. E a l�gica de mercado, bra�os dados com a necrofilia, � quem vai novamente ao trono.

 

 

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