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Jornal O Povo - 28/08/2000
"Renato Russo, O Trovador Solit�rio"
chega na pr�xima semana �s livrarias. Escrita por Arthur Dapieve, a
biografia do l�der do grupo Legi�o Urbana n�o consegue sair da
superficialidade e n�o traz nenhuma informa��o que qualquer f� da banda j�
n�o saiba."
Um olho no peixe, outro no gato. De um lado, milh�es de legion�rios �vidos
por qualquer informa��o, produto ou badulaque que aplaque a saudade do �dolo
morto h� quatro anos. Do outro, uma vida pra l� de interessante, repleta de
situa��es sui generis prontas para serem contadas. Juntando a fome com a
vontade de comer, tem-se Renato Russo, O Trovador Solit�rio, biografia do l�der
do Legi�o Urbana, escrita pelo jornalista Arthur Dapieve, que chega na pr�xima
quarta-feira �s livrarias de todo o pa�s.
� primeira vista, parece um grande achado. N�o �. O livro de Dapieve
limita-se a ter um perfil curiosamente d�bio. Antes de qualquer coisa, � um
livro assumidamente para f�s do Legi�o. Cada linha, cada cap�tulo tem a
finalidade priorit�ria de mostrar como Renato Russo foi o maior g�nio de sua
gera��o e pelo menos das tr�s pr�ximas. S� para se ter uma breve id�ia
do n�vel a que esse incensamento chega, veja o trecho a seguir, que trata da
grava��o do primeiro disco da banda: ``Vendo os rapazes trabalharem, (Jos�
Em�lio) Rondeau, que j� se enamorara da voz de Renato por causa de uma mera
fita amadora, caiu de joelhos. `S� um cego ou surdo n�o constataria de
primeira que Renato era John Lennon, Bob Dylan, Elvis Presley, Paul McCartney,
Bruce Springsteen, Brian Wilson e Joe Strummer, tudo junto, num pa�s t�o
carente de equivalentes nacionais', definiria. Ver Renato gravar as duas vozes
de Gera��o Coca-Cola se aproximou de uma experi�ncia m�stica para o
jornalista''.
� a� que se d� a dubiedade de sua proposta. Apesar de ser voltado para os
tietes da banda, Renato Russo, O Trovador Solit�rio n�o traz nenhuma informa��o
que qualquer f� mediano do Legi�o Urbana n�o saiba. Ao contr�rio, o autor
parece esfor�ar-se em n�o aprofundar suas pesquisas, nenhum tema pol�mico
(ou ainda desconhecido) � enfocado. A imagem que o livro traz de Renato n�o
� nenhuma nesga mais esclarecedora que a j� retratada em centenas de
revistas e jornais: o �dolo genial, alco�latra e dependente de drogas qu�micas,
carente e com complexo de inferioridade, que volta e meia quebrava tudo a seu
redor.
Mais curioso ainda � que boa parte dos legion�rios sabe mais da vida de
Renato Russo do que Dapieve se prop�s a contar. Uma situa��o exemplar da
postura equivocada do escritor para com seu retratado se d� na forma como ele
enfoca a quest�o da (homo)sexualidade de Russo. O assunto � tratado com
moralismo (ainda que disfar�ado), quase que com culpa. E aqui cabe uma
ressalva. N�o se pense que o foco da biografia devesse ser os parceiros de
len��is do cantor e compositor. O foco � outro. Renato Russo foi o primeiro
(e at� hoje �nico) pop star brasileiro a militar assumidamente na causa gay,
al�m de assumir sua orienta��o sexual abertamente. N�o falar do empenho de
Renato Russo na lutas pelos direitos dos homossexuais equivale a escrever uma
biografia de Fernando Gabeira e n�o tratar na sua batalha pela descriminaliza��o
da maconha.
Al�m disso, um dos assuntos mais controversos ligados � vida de Russo merece
uma abordagem brev�ssima, digamos assim. O suposto filho do cantor, Giuliano,
� apenas citado duas ou tr�s vezes no livro. Nada de indica��o sobre quem
seria sua m�e, se ele foi adotado ou n�o e por a� vai (curiosidades b�sicas
de qualquer f� de carteirinha do Legi�o Urbana). Isso e mais um monte de
situa��es cong�neres. Infelizmente, ainda n�o foi dessa vez. Com certeza,
o livro deve vender como cerveja gelada na beira da praia em dia de sol
escaldante. Mas a legi�o de f�s do Legi�o fica merecendo uma nova biografia
do fundador e l�der da banda. Uma publica��o que rompa a superficialidade e
se aprofunde em quest�es mais pertinentes.
Renato Russo, O Trovador Solit�rio - de Arthur Dapieve. Editora Relume Dumar�,
180 p�ginas. Pre�o: R$ 15,00 (nas livrarias, a partir do pr�ximo dia 30).
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