Legi�o Urbana Uma Outra Esta��o
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Suic�dios traem Russo(Folha de S�o Paulo - 19/10/1996) (Por Miriam Chnaiderman) �
Miriam Chnaiderman � psicanalista. Dois jovens
parecem ter se matado depois da morte de Renato Russo. Se de fato algu�m se
matou por causa da morte de Renato Russo, n�o entendeu nada. Porque se Renato
Russo n�o gostasse da vida n�o seria vocalista do Legi�o Urbana, n�o seria
militante de movimentos gays, n�o teria composto as m�sicas que o consagraram. Parece que n�o
leram at� o fim a letra de "Clarisse", in�dita publicada na
Ilustrada de ter�a: "Um mundo onde a verdade � o avesso/ E a alegria n�o
tem mais endere�o/(...) Eu sou um p�ssaro/ Me trancam na gaiola..." Quem tem raiva e
faz poesia est� lutando pela vida. Renato transformou sua dor em cria��o, em
busca. Acreditou no amor at� o fim. A morte n�o homenageia sua vida em nada. Renato Russo n�o
se matou. Morreu de Aids. Sim, estava deprimido. Dizem que se entregou. Sabe-se
l�... Sim, suas letras eram cada vez mais terr�veis. Mas, nessa
entrega, apareceu sua luta amorosa, seu amor. E, mesmo nas letras mais tristes,
h� a revolta, a vontade de um mundo menos do "avesso". Ter escolhido
morrer em casa � um ato que pode mesmo ser lido como consequ�ncia de uma
postura pol�tica. Preferiu seu cantinho a uma UTI. Teve pudor, pois a morte �
algo do mais �ntimo de cada um. Renato Russo n�o
tinha cara de roqueiro: barbudo, desajeitado, �culos, nada atl�tico. O amargo
aparecia nas letras, na ansiedade que tinha para fazer seus sentimentos, sua vis�o
de mundo ganharem express�o em poucas frases. Idolatrar �
delegar algo de nosso a algu�m que tem certas caracter�sticas, o que leva a
uma depend�ncia. Nossos ideais,
nossos sonhos passam a estar fora de n�s mesmos. Se algo de cada um fica
depositado em outra pessoa o �dolo � como se precis�ssemos dessa vida outra
para respirar. A morte de um l�der
pede uma reapropria��o. Vivemos um momento em que os ideais est�o de pernas
para o ar. E tudo � dif�cil. A Aids � um dado de nosso dia-a-dia. Renato Russo,
com seu jeit�o desengon�ado, queria mais � que cada um pudesse ser e amar
como bem lhe aprouvesse. Homenage�-lo �
lembrar que "qualquer forma de amor vale a pena", como cantou Milton
Nascimento. |
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Skooter 1998 - 2008 |
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